O Hospital Tacchini, de Bento Gonçalves, comemora os resultados do estudo clínico internacional para uso do antiviral molnupiravir contra o coronavírus. A instituição é uma das sete participantes da pesquisa no Brasil. Os ensaios clínicos ocorreram simultaneamente em diversos outros países. Além do Instituto Tacchini de Pesquisa em Saúde (ITPS), participaram hospitais de São Paulo (dois na capital e um em São José do Rio Preto, no interior), Brasília (DF), Belo Horizonte (MG) e Curitiba (PR). Os centros clínicos participaram da fase 3 da pesquisa, realizada com pacientes no momento inicial da doença — até cinco dias de sintomas, não hospitalizados.
A biofarmacêutica norte-americana Merck Sharp & Dohme (MSD) anunciou nesta sexta-feira (1º) que o remédio reduziu significativamente os riscos de hospitalização e morte pela doença. As análises foram realizadas com pacientes adultos, que apresentaram sintomas leves a moderados de covid-19. Na quarta-feira, a empresa já havia anunciado que o antiviral oral desenvolvido em parceira com a Ridgeback Biotherapeutics teve resultado eficaz contra as variantes do coronavírus, em testes de laboratório.
A Merck afirmou ainda que a pílula diminuiu a chance de hospitalização ou morte pela metade e que 7,3% dos pacientes testados foram internados ou a óbito. A farmacêutica afirmou ainda que deixará de recrutar mais voluntários devido aos resultados positivos e que pretende emitir "o mais rápido possível" um pedido de autorização de uso emergencial ao Food and Drug Administration (FDA, agência norte-americana que regula medicamentos e alimentos).
— Fomos informados pela equipe responsável pelo estudo que o mesmo foi interrompido precocemente em função dos resultados positivos. Na análise, o molnupiravir reduziu o risco de hospitalização ou óbito em aproximadamente 50% — comemora a infectologista e diretora técnica do Tacchini, Nicole Golin.
A médica, que é a investigadora principal do estudo no Tacchini, esclarece que a eficácia da medicação pode ser para a covid-19 o que o oseltamivir (Tamiflu) foi durante a pandemia de H1N1, em 2009.
— Até hoje, o medicamento (Tamiflu) é prescrito quando há suspeita de infecção pelo vírus Influenza, especialmente em indivíduos mais vulneráveis, como idosos e pessoas com comorbidades — explica Nicole.
A Merck anunciou ainda que buscará a autorização da FDA para uso emergencial do remédio ainda este ano. Para Nicole, a notícia é animadora para toda a equipe, tanto por participar do estudo, quanto pelos resultados mostrados no combate à pandemia.
— A chance individual de proteção com as vacinas chega a ser até 80% a 90% de redução das internações e óbitos. Tendo uma medicação efetiva nos dias iniciais da doença, essa taxa de proteção poderia subir para 95% a 97%, o que é excelente.
Novamente, a especialista cita o exemplo visto na gripe Influenza: as pessoas idosas são vacinadas, mas se apresentarem um quadro de síndrome gripal, pertencendo a um grupo de risco, será usado o oseltamivir nas primeiras 48 horas.
— Nesse tipo de infecção, o tempo de intervenção é crucial para um desfecho favorável. Um remédio oral, eficaz e seguro contra a covid-19 em complemento com as vacinas pode efetivamente mudar os rumos da pandemia e trazer algum senso de normalidade de volta à vida cotidiana — aponta.
Desde 2014, o Instituto Tacchini de Pesquisa em Saúde (ITPS) tem um trabalho desenvolvido em diversas áreas, como cardiologia, oncologia, fisioterapia e pediatria. Nicole conta que desde que o coronavírus surgiu a instituição se dedica a estudos multicêntricos que buscam remédios para combater ou curar a covid-19:
— Somos o centro com mais participação em quantidade de pesquisas de todo o Rio Grande do Sul. Ao todo, o ITPS foi habilitado a participar de 13 dos principais estudos realizados em todo o mundo. Um deles, é o do molnulpiravir.
O estudo
A medicação foi usada em estudos de duas frentes: a profilaxia — que é a proteção preventiva após a exposição a um agente infeccioso — e o tratamento para infectados que ainda não necessitam de hospitalização.
O Molnupiravir age de forma parecida com o Remdesivir — único medicamento para a covid-19 aprovado pela FDA. O fármaco atua no RNA do SARS-CoV-2, evitando que ele se replique nas células. Na comparação com o Remdesivir, o novo medicamento mostrou maior eficácia em tempo inferior, além de ser mais barato e poder ser administrado por via oral.
Além da Merck, várias empresas trabalham em possíveis antivirais orais, que imitariam o que o medicamento Tamiflu faz contra a gripe e evitariam que a doença progredisse para um estado grave. Entre elas está a Pfizer, que já tem vacina em uso.
O ensaio clínico da Pfizer envolverá 2,6 mil adultos, que participarão dos testes assim que apresentarem sinais de infecção por covid-19 ou assim que souberem que foram expostos ao vírus. Eles receberão aleatoriamente uma combinação de PF-07321332 e ritonavir, ou um placebo, duas vezes ao dia por cinco a 10 dias. O objetivo do teste é determinar a segurança e eficácia dos medicamentos na prevenção de uma infecção por SARS-CoV-2.