O isolamento é, talvez, o tema que mais gera discussão neste momento. Afinal, ele adiantou? Já é hora de levantarmos e retomarmos a vida normal? Como um gestor ligado direto à linha de frente no combate do coronavírus, Sandro Junqueira, diretor-geral do Hospital Geral da UCS – o único 100% SUS da região –, é assertivo:
— Eu acho que foi fundamental esse período de isolamento. Conseguiu achatar a curva, estão surgindo casos de menor gravidade e os pacientes que estamos atendendo conseguimos tratar em casa. Esse distanciamento deu o achatamento necessário para que possamos atender todos com o mesmo critério e de forma espaçada.
Essa visão é completamente oposta do que ele mesmo tinha há dois meses. No início de março, Junqueira ressalta que existiam temores da equipe do hospital e havia muitos motivos para isso. O primeiro de tudo eram os equipamentos de proteção individual, não se tinha o suficiente. E isso não é algo somente de Caxias do Sul. A fa,ta desses equipamentos fizeram o Brasil se tornar o país com maior letalidade de funcionários da área da saúde.
O medo da pandemia também trouxe uma rede de apoio junto ao HG. O voluntariado supriu essas faltas de EPIs e agora começa a suprir a demanda de equipamentos. Junqueira se diz confiante para encarar os próximos três meses. Segundo ele, a retomada da economia pode ser feita, mas de forma controlada.
— Eu vejo que as políticas para liberação do comércio estão sendo feitas de forma muito consciente. O Hospital Geral, no dia 15 de maio, estará abrindo 10 UTIs adultas. Quando começa a ter leitos hospitalares, pode ir tirando um pouco esse isolamento social — ressalta Junqueira.
ESTRUTURAÇÃO FOI REALIZADA
A Serra tem um eixo claro e ele roda no entorno de Caxias e Bento. Segundo os secretários de saúde, o tempo de restrição social foi fundamental para que as prefeituras buscassem estruturação. E, para isso, dois pontos são importantes: abrir novos leitos de UTIs e a testagem da população. Nesse ponto, Bento parece ter dado um passo mais rápido e contundente: comprou mais insumos para exames.
A curva ascendente se deve muito a esse investimento alto da comunidade do Vale dos Vinhedos. Essa testagem mostrou como o vírus está se comportando no município e já fez o prefeito Guilherme Pasin rever o decreto que liberou praticamente todas as atividades econômicas no dia 16 de abril. As subnotificações vieram ao conhecimento da população e auxilia na tomada de decisões e até para as projeções.
— O que imaginamos é o aumento no número de casos, mas é difícil saber quando chegaremos ao pico. Estimamos que até final de maio teremos uma estabilização — crê Diogo Siqueira.
Em Caxias do Sul, os investimentos no combate ao coronavírus serão na casa de R$ 15 milhões. A cidade tem projetados três hospitais de campanha. Por enquanto, apenas o do Virvi Ramos está em funcionamento. Houve compra de mais testes rápidos e assinou com a UCS um contrato para ter 400 diagnósticos PCR – exame mais completo para detectar o coronavírus – por mês. A cidade também aguarda a liberação de 10 leitos no Hospital Geral, que dependem de portaria do Ministério da Saúde.
Com a demora, já está tomada uma decisão: no dia 15 de abril, eles serão abertos. A taxa de ocupação do SUS não baixa de 80% e, em um inverno normal, faltariam leitos. Isso faz a pasta se movimentar para que se tenha uma tranquilidade maior em tempos de pandemia. Ainda mais em uma cidade que é referência para 48 municípios, não apenas para o coronavírus, mas para outras enfermidades que não dão trégua.