O Ministério da Saúde (MS) divulgou nesta quarta-feira (20) novas orientações que ampliam a possibilidade de uso da cloroquina e da hidroxicloroquina para pacientes com sintomas leves da covid-19. No entanto, isso ainda gera muita discussão no meio científico, porque esses medicamentos utilizados para tratamento da malária e de doenças reumatológicas não deram provas concretas de que são eficazes contra o coronavírus.
Segundo as novas orientações, o paciente deve assinar um termo de consentimento que afirma que a cloroquina e a hidroxicloroquina podem causar efeitos colaterais “como redução dos glóbulos brancos, disfunção do fígado, disfunção cardíaca e arritmias, e alterações visuais por danos na retina”.
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Para o pneumologista e coordenador do programa de residência médica em clínica médica do Hospital Geral, de Caxias do Sul, Fabrício Piccoli Fortuna, nenhum estudo demonstrou que a medicação produz algum desfecho clínico comprovado. Segundo ele, nenhuma pesquisa aponta que a hidroxicloroquina reduziu taxas de óbitos, a necessidade de ventilação ou tenha acelerado o tempo de recuperação dos infectados.
— Não chegou no máximo nível de evidências. Eu posso dizer, com nível alto de certeza, que é improvável que a hidroxocloroquina venha demonstrar ser eficaz para qualquer nível de infecção para covid-19 num futuro próximo. Eu acho que do ponto de vista técnico, indicar ela para tratamento populacional é uma temeridade — afirma Fortuna, que complementa:
— Pelo o que conheço de virologia, não é de se esperar que algo diferente de vacina que vá funcionar.
O Hospital Tacchini, de Bento Gonçalves, participa de um estudo com a cloroquina e deve apresentar seus resultados na quinta-feira (21). Em Vacaria, o Hospital Nossa Senhora da Oliveira, outra instituição que fazia uso da medicação, não respondeu a reportagem até o fechamento desta edição. No dia 8 de abril, quando surgiu o primeiro caso da covid-19 no município dos Campos de Cima da Serra, a enfermeira Rosana Nery, responsável pela Vigilância em Saúde do município, disse que todos os pacientes recebiam a medicação.
Nesta quarta (20), o secretário da Saúde, Márcio Tramontina, ressaltou que apenas o hospital está autorizado a ministrar esta medicação.
ESTUDOS APONTAM POUCA EFICÁCIA
Dois estudos finalizados nas últimas semanas não demonstraram a eficácia da cloroquina. Publicado pelo Journal of de American Medical Association, em de abril, um estudo brasileiro pretendia incluir 440 pacientes, 220 para altas doses de cloroquina e 220 para doses mais baixas. Foi encerrado precocemente, com apenas 81 contaminados pelo coronavírus, porque a mortalidade foi de 39% no grupo que recebeu uma dose alta da droga. Ainda aumentou os riscos de arritmia quando a cloroquina foi combinada com oseltamivir (que serve apenas para influenza) e azitromicina (que é antibiótico e não antiviral).
O segundo estudo foi publicado em 7 de maio, no New England Journal of Medicine, com 1.446 pacientes, e não encontrou eficácia com o uso da cloroquina. Tampouco não houve um nível alto de toxicidade dos pacientes, pois a dose do medicamento foi menor que na pesquisa brasileira.