A possibilidade de um colapso no sistema de saúde de Caxias do Sul foi reforçada pelo secretário municipal da Saúde, o médico Jorge Olavo Hahn Castro. A grande ameaça é a projeção de 7,6 mil pessoas em tratamento hospitalar nos próximos quatro meses em decorrência do coronavírus. Os dados são embasados na fórmula de cálculo estipulada pelo governo do Estado, em que 10% da população pode contrair o vírus e, desse total, 15% precisariam de internação _ Caxias poderia chegar a 51 mil infectados até o final de agosto, sendo 82% com sintomas leves e moderados. Castro admite que haveria caos e faltariam leitos, equipamentos e equipes médicas para cuidar de tantos pacientes em situações mais graves.
- Essa é a projeção se nada for feito. Nós queremos que esse número seja menor ao longo de um período maior. Esse é objetivo do isolamento social e o motivo de não podermos liberar toda a população de uma só vez - reforça o secretário, que vem debatendo com o Gabinete de Crise do município alternativas para manter o distanciamento social diante da pressão pela retomada das atividades do comércio e de outros setores.
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Nos últimos dias, o cenário dos hospitais poderia ser classificado como tranquilo. A maioria das instituições estava com lotação abaixo da média, oscilando entre 55% e 65% de ocupação dos leitos clínicos, o que significava cerca de 500 vagas disponíveis. No total, Caxias tem 1.425 leitos, entre vagas do Sistema Único de Saúde (SUS) e da rede privada. Geralmente, a taxa de ocupação passa de 80% e beira a quase 100%.
Os leitos de sobra fazem parte do plano de contingência para lidar com uma onda de internações que pode acontecer nas próximas semanas - foram adiadas cirurgias eletivas que exigem internação. Em tese, a reserva inicial é relativamente adequada numa situação em que a população colabore com a prevenção e a transmissão da doença ocorra de forma esparsa e não fique concentrada num período de poucos meses. O que cabe avaliar é o eventual descontrole de casos e o surgimento de outra doenças sazonais, como a gripe, segundo o secretário.
Pelos cálculos do cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt, essa retaguarda atual de leitos, se mantida no mesmo ritmo, seria totalmente utilizada já no início da segunda semana de julho, apenas pelos pacientes de coronavírus. A partir daí, o município precisaria operar leitos extras por meio de hospitais de campanha.
Embora a primeira previsão envolva a abertura de 100 leitos nas próximas semanas, sendo parte no Hospital Virvi Ramos e outra numa área mais ampla ainda a ser definida, haveria dificuldades e a pandemia exigiria muito mais centros de tratamento do que o previsto _ faltariam 1,2 mil vagas no final de agosto.
- Vamos reavaliar conforme o quadro muda. O que precisa ficar claro é que o recurso tem um limite. Precisamos de respiradores, mas vamos precisar de profissionais para operar o equipamento. Se vamos abrir mais UTIs, temos que ter uma equipe para ficar cuidando do paciente, outros equipamentos. Vai ficar muito difícil se não conseguirmos manter o isolamento e os casos dispararem - pondera o secretário da Saúde.
O alerta de Castro é amparado pela dificuldade do Virvi Ramos em abrir um hospital de campanha - 49 leitos a mais. A instituição tem a escala dos médicos fechada, mas ainda não conseguiu estabelecer o quadro de enfermagem - são necessários 30 profissionais na área. A outra dificuldade é a aquisição de insumos, como canos para os tubos de oxigênio. Ainda assim, a expectativa é ter a unidade pronta até a segunda semana de abril. Em outra ponta, a prefeitura negocia a abertura de 50 leitos num ginásio esportivo.
Castro ressalta que o município está preparado para os próximos 30 dias, desde que obedecida a prevenção em massa como ocorre agora. Até o momento, o contágio ainda estaria dentro do controle.
- Dos casos que necessitaram de atendimento médico, todos foram testados. Não existe subnotificação de casos graves e moderados. Mas não temos teste com a população em geral, dos chamados casos leves e assintomáticos. Então, o contágio pode ser maior e não temos como saber. Isso foi uma opção do Ministério da Saúde que, em virtude da transmissão comunitária, não viu necessidade de teste para casos leves. Então, não há como conter a pandemia sem o distanciamento social - frisa o secretário.
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