Entra ano, sai ano e o problema envolvendo a falta de vagas em séries iniciais do Ensino Fundamental de Caxias do Sul segue provocando grandes dores de cabeça nos pais. Desvio Rizzo e Serrano são os bairros em que a situação é mais crítica para o ano letivo de 2020. Aliás, como tem sido desde 2015.
A parceria entre Estado e município, que cede salas de forma à Secretaria Municipal da Educação (Smed) em escolas de bairros distantes, surgiu como uma ação emergencial para amenizar o problema com o intuito de não deixar as crianças fora da escola, se consolida cada vez mais como uma solução definitiva. Pelo menos até que novos investimentos sejam feitos, com a construção de novas escolas nas áreas que concentram as maiores reclamações da comunidade. O fato é que, de novo, o ano letivo terá início, em 19 de fevereiro, sem que todas as crianças estejam em sala de aula. Em 2019, eram cerca de 35 mil alunos matriculados na rede municipal. A Smed não tem um levantamento de quantos frequentarão as escolas neste ano e tampouco quantos não conseguiram vagas no próprio bairro.
No Rizzo, um grupo de 50 mães está se organizando para buscar explicações do município e o cumprimento da Lei nº 11.700, de 2009, que assegura "vaga na escola pública de educação infantil ou de Ensino Fundamental mais próxima de sua residência a toda criança a partir do dia em que completar quatro anos de idade."
— Eu concordo com elas (as mães). Nestes bairros de maior demanda de vagas são necessárias mais escolas. Nós estamos tentando pelo menos amenizar essa questão de forma emergencial. E também temos uma equipe de infraestrutura que está buscando saídas para os casos mais críticos. No Rizzo estamos tentando, mesmo que ainda de forma embrionária, municipalizar uma das escolas — destaca a titular da Smed, Flávia Vergani, que também pretende, ainda este ano, encontrar algum espaço na região para planejar a construção de uma nova escola.
A curto prazo, no entanto, não há nenhuma outra alternativa viável a não ser deslocar quem ainda não conseguiu vagas para escolas que se localizam a distâncias maiores. Conforme Flávia, a duas semanas do início do ano letivo, ainda precisam ser realocadas 66 crianças do primeiro ano do Ensino Fundamental nas escolas do município. Os estudantes do Desvio Rizzo, por exemplo, não têm outra saída a não ser se utilizar da parceria com o Estado e estudarem em 2020 na Escola Dante Marcucci, no Marechal Floriano, distante 8,5 quilômetros do bairro.
— Disponibilizamos transporte gratuito para essas crianças não ficarem sem estudar. Não temos nenhuma vaga no Rizzo e não existe hoje outra opção — destaca a secretária.
O grande entrave segue concentrado na divisão de vagas por zonas da cidade. Desvio Rizzo, Serrano e Esplanada concentram mais da metade da demanda de Caxias do Sul. E, nos últimos anos, com o crescimento populacional acelerado destes bairros, a briga por vagas só tem crescido nestas regiões. Enquanto não há uma solução definitiva, o jeito é seguir contando com a ajuda do Estado. Que já não é uma medida "emergencial".
MÃES SE REÚNEM COM SECRETÁRIA NESTA SEXTA-FEIRA
A professora Jennifer Santos de Camargo, 29 anos, é uma das afetadas pela falta de vagas nas escolas do Desvio Rizzo. Ela faz parte do grupo de 50 mães e amanhã se reunirá com a secretária Flávia Vergani nesta sexta-feira (7) para buscar alguma alternativa. O grupo não descarta um protesto na frente da Smed na próxima terça-feira.
— Mas já sabemos o que vão nos dizer: que o bairro cresceu demais e a demanda está alta. Mesmo que queiram, eles não têm o que fazer agora. Só com novas escolas, o que não se faz de uma hora para outra — lamenta Jennifer, que busca vaga para a filha Isabelly, seis, no primeiro ano.
A principal reivindicação do grupo é que as crianças permaneçam no bairro e não sejam remanejadas para escolas tão distantes, como o Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendoza ou a também estadual Dante Marcucci, que têm absorvido a demanda do município. Jennifer relata que a prefeitura até disponibiliza transporte para os estudantes até a região do Cinquentenário, onde se localizam os colégios, mas que muitas vezes os pais precisam caminhar mais de dois quilômetros para ir ao encontro do veículo, o que seria um contrassenso.
— Nos dizem que ou aceitamos a vaga oferecida ou voltaremos para uma lista de espera. Ou seja, ainda sofremos ameaças. Já falei com Conselho Tutelar, Central de Matrículas e não fazem nada — reforça Jennifer.
A também professora Ana Angela Martins, 43, tinha vaga para a filha Emanuelle, 10, em Farroupilha, onde trabalha em uma escola municipal. No entanto, por conveniência, pretendia fixar a menina na Alexandre Zattera, no Rizzo, que está a uma quadra de casa. Mas não teve sucesso.
— No meu prédio temos quatro crianças e três delas não foram contempladas em escola alguma. É nosso direito exigir que nossos filhos fiquem próximos de casa. É inadmissível ter que mudar minha filha todos os anos de escola. E impensável mandar ela a um colégio tão longe — questiona.