
Todos os anos, o Outubro Rosa defende a importância do autoexame para detecção precoce do tumor, o que aumenta as chances de cura. Um levantamento da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) aponta que uma em cada 12 mulheres receberá o diagnóstico de um tumor nas mamas até os 90 anos. Diante dessa realidade, o tratamento torna-se um procedimento cada vez mais comum. Abrimos aqui uma série com histórias de mulheres que viram na experiência do tratamento uma oportunidade de ressignificar a vida.
O seguro fornecido pela previdência seria válido até 2020, mas a técnica de enfermagem Madelaine Comerlato Postal, 41, fez questão de cancelar o benefício e retornar ao trabalho tão logo sentiu-se recuperada do tratamento de câncer de mama. Surpreendida por uma homenagem dos colegas, ela voltou à rotina de plantões no Hospital da Unimed na sexta-feira passada, encerrando o ciclo exato de um ano em que ficou afastada da atividade.
Justamente por atuar na área da saúde, Madelaine eventualmente se deparava com pacientes oncológicos e lembra como enxergava a doença, jamais cogitando estar “do outro lado” do atendimento.
— Eu tinha dó e nunca me imaginei assim. A palavra câncer causa muito medo, a gente pensa que é a morte, mas pra mim foi um recomeço — afirma.
De uma hora pra outra Madelaine se viu deixando a equipe de atendimento e tornando-se paciente oncológica. No primeiro dia do mês que, associado à cor rosa tornou-se símbolo da prevenção ao câncer de mama, durante um banho, ela percebeu um caroço em uma das mamas. O diagnóstico se confirmou no dia 5 de outubro e, seis dias depois, ela já passava pela mastectomia (retirada da mama), por se tratar de um tumor mais agressivo.
— Tive dois dias de luto, chorei muito, mas depois, com a rotina de exames, não tive nem tempo de pensar. Foi muito mais tranquilo do que imaginava — conta.

Vaidosa, a técnica em enfermagem conta que precisou lidar não apenas com as inseguranças geradas pelas mudanças físicas causadas pela quimioterapia, mas também com o preconceito das pessoas. Algumas, chegavam a fazer o sinal da cruz quando a viam. Outras tiravam fotos pelas costas para mostrar a como ela estava.
— As pessoas ainda acham que quem tem um câncer está condenada. Mudar é difícil, eu era uma pessoa preconceituosa, mas entendi que o preconceito é um medo. Vivendo e passando por isso a gente vê que não é tão ruim assim. A quimioterapia realmente é forte, mas é o recomeço, não é o fim — garante.
Para Madelaine, a experiência do tratamento, que se encerrou em março deste ano, resultou em uma transformação radical. Além de mudar hábitos alimentares, aderir a uma rotina de exercícios e parar de fumar, ela mudou a maneira de enxergar o mundo e de se relacionar com as pessoas:
— Quero aproveitar a família e passei a amar mais o meu trabalho, que é sobre a vida.
Por um tratamento mais seguro e confortável
Cada paciente pode encarar e reagir de diferentes formas ao processo de tratamento do câncer de mama. A psicóloga e psicanalista Suzymara Trintinaglia explica que, em um primeiro momento, a ideia da "sentença de morte" realmente pode vir à tona, potencializando sentimentos relacionados à ansiedade e depressão.

— Estamos falando do feminino, do medo da morte e de deixar as pessoas que a gente ama. É uma avalanche emocional.
Confira algumas orientações da profissional que podem tornar o período de tratamento mais confortável e seguro para quem passa por ele:
:: Criar uma rede de proteção: assim que houver a suspeita do câncer, é importante reunir a família, lembrando que o tratamento existe e que o apoio de todos será fundamental.
:: Buscar apoio psicológico: muitos sentimentos de pensamento de morte podem acontecer e a depressão pode advir, sobretudo se não houver uma rede de proteção com pessoas nas quais se possa confiar.
:: Buscar o prazer: manter atividades prazerosas, autocuidado e rotina de exercícios, na medida do possível e procurar não evitar frequentar lugares públicos, trabalhando sempre a aceitação.
:: Não se comparar: existem diferentes maneiras de reagir ao tratamento. Filtrar comentários maldosos é importante, principalmente porque o preconceito, infelizmente, está por todos os lados.