Das experiências da vida corporativa, o empresário Gustavo Casarotto, 41 anos, não esquece de um funcionário que estava prestes a ser desligado da Metadados, empresa fundada pelo pai, José Valdocir Casarotto, e hoje administrada em parceria com dois sócios no bairro Cinquentenário, em Caxias do Sul. Era 2012. Fragilizado, o homem que assinaria a rescisão de contrato revelou estar vivendo uma batalha emocional só domada em alguns momentos pela força de antidepressivos. O funcionário meio que se desculpava pelo sofrimento que lhe impedia de estar inserido no ambiente profissional como desejavam os gestores.
Casarotto sentiu um baque.
— Fiquei me questionando: por que alguém que trabalha comigo tem de tomar antidepressivos? — conta.
Incomodado com a situação, o empresário investigou a condição de outros funcionários — na época, eram cerca de 100 colaboradores. O resultado foi ainda mais impactante: pelo menos uma dezena dependia de medicamentos para contornar os sintomas da depressão. Não era natural, não era normal. O empresário e sócios começaram a se perguntar onde estava a falha. Um dos caminhos apontou que a pressão e o estresse para manter o negócio competitivo precisavam de um contraponto positivo.
Sob orientação de uma psicóloga, os gestores chegaram a conclusão de que a Metadados não era uma clínica, mas tinha o dever de trabalhar a prevenção. Nascia ali uma série de iniciativas que mudaria conceitos e estabeleceria um olhar mais atento à condição psíquica e espiritual de cada colaborador, entre eles, o programa Sintonizen.
A ideia consiste em trabalhar quatro pilares: o corpo, a alimentação, a respiração e a atenção plena. As ações podem ser vistas por todos os cantos da empresa, com cartazes de boas vindas, frases sobre união e respeito ao próximo e um clima de empatia. Há, por exemplo, três chás à disposição dos funcionários com efeitos calmante, analgésico ou estimulante. Mas se você quiser tomar uma café, tudo bem.
A pressão para atender com rapidez e qualidade aos anseios dos clientes não mudou, mas o ambiente e as relações ganharam mais leveza. O acolhimento interno é desenvolvido pelo time de Recursos Humanos e se dissemina entre os funcionários. É uma caminhada aparentemente simples, mas com força para renovar a alma em equipe.
— Se estimula a conversa, a escuta do colega através da liderança. Não há barreiras entre a direção e os funcionários. Já trouxemos o frei Jaime Bettega e o Jorge Trevisol para falar sobre amor, perdão — explica a analista de Recursos Humanos, Salete Caren Zanol.
Com tantos muros derrubados, a empresa figura no ranking das Melhores Empresas para Trabalhar no Rio Grande do Sul, desenvolvido pelo Great Place to Work. A proximidade entre direção e funcionários, a simplicidade no trato e as relações horizontais têm fortalecido sobretudo a amizade e respeito, embora nem tudo seja perfeito.
— Sinto que as pessoas têm orgulho de fazer parte — resume a funcionária Letícia Dambrós.
Para Casarotto, a empresa ainda precisa o lucro porque se trata de manter salários e famílias, mas não é só o lucro.
— O lucro é muito pouco se tu é pobre de espírito. Hoje, me pergunto o que é uma pessoa de sucesso? Ter dinheiro, viajar todo ano para a Europa? É mais do que isso — conclui o empresário.
Integrada ao novo modelo de gestão, Nathalia Soares, do marketing, resume:
— Tu pode chegar em qualquer sala, trocar ideias. Você se sente acolhido.