Os moradores que lutam pela construção do observatório astronômico em Vacaria são leigos em astronomia. Ao mesmo tempo, conseguem mostrar que o tema pode ser assimilado por qualquer pessoa, basta querer.
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Alguns possuem telescópios potentes, outros improvisam com lunetas. Ainda aprendendo a observar o céu, o comerciante Luiz Carlos Franco, da Sociedade de Estudos Astronômicos de Vacaria (Seav), pondera que o conhecimento adquirido derruba preconceitos que rondam a área. Muita gente vê o segmento como enredo de filme de ficção científica, quando, na verdade, trata-se de realidade.
— A astronomia e a ciência nos ajudam a sair da caverna onde vivemos, onde nos nos criamos — exemplifica Franco, que exibe com orgulho uma caneta de laser verde usada para apontar os corpos celestes.
Para o cirurgião-plástico Heliandro Abreu Rosa, outro apaixonado pelo projeto do observatório e autor do livro Sobre a Origem do Homem, a cidade terá uma grande oportunidade na educação.
— A Seav é apenas uma semente. O que queremos é trazer cultura, ciência e turismo para Vacaria — complementa o cirurgião-dentista Mateus Zanotto.
A associação nasceu em 2015 com 20 sócios-fundadores. Na concepção inicial, a partir da abertura da Seav, o observatório astronômico da cidade seria financiado por empresários e teria um cunho mais informal. Mas um contato com o físico Cláudio Bevilacqua, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ampliou os horizontes e surgiu a possibilidade de convênio para a área da educação, o que gerou todo o projeto voltado para o saber e um possível vínculo com a instituição de ensino. Bevilacqua e outro colega da universidade estiveram em Vacaria para orientar o projeto.
— São três fatores que reforçam a importância de um observatório: vai mostrar aos alunos de escolas coisas que não podem ser vistas no dia a dia da sala de aula, tais como a lua e suas crateras, os aglomerados de estrelas; vai complementar o currículo de ciências do Ensino Fundamental e Médio e vai ajudar na alfabetização científica do público em geral — afirma o físico, que atua no Observatório Astronômico da UFRGS em Porto Alegre.
A participação da universidade se daria pelo treinamento de professores que, por sua vez, repassariam o conhecimento para outros docentes.
— É um projeto que cria todo um clima para esse tipo de ensino. As pessoas vão perceber que existe um outro mundo além da TV e do celular — enfatiza o físico.
Apaixonado pela astronomia
Numa justa homenagem, os integrantes da Seav pretende batizar o observatório da cidade com o nome do engenheiro eletricista de Fernando Borsoi. Mesmo abatido pela doença, diagnosticada no final do ano passado, Borsoi seguiu estimulando os amigos e buscando contatos, demonstrando a força e o entusiasmo que trazia da infância.
— Ele trocava ideias até no leito do hospital porque o projeto é muito bom — relembra a esposa dele, a arquiteta Angela Cristina dos Santos, 49.
O engenheiro gostava de assuntos relacionados à astronomia desde pequeno. Chegou a cursar a faculdade de Física, mas optou pela Engenharia Elétrica. Em casa, ele e Angela mantinham dois telescópios. Geralmente, os jantares com amigos eram embalados por assuntos sobre estrelas e planetas. Natural de Vacaria, Borsoi não chegou a conhecer os famosos roteiros astronômicos no deserto do Atacama no Chile ou as instalações da Nasa, por exemplo. Mas teve a oportunidade de visitar o Instituto Max Planck para a História da Ciência, em Berlim, na Alemanha, e manter contatos com especialistas de outros países via internet.
— Era hábito dele dividir o saber. Se envolveu em vários assuntos na vida, era pesquisador, ele era um cientista — elogia Angela.
Borsoi morreu no dia 18 de março.