
Uma visita de 30 minutos, três vezes ao dia, talvez não fosse suficiente para tranquilizar e aproximar as famílias dos pacientes internados nas três unidades de terapia intensiva (UTIs) do Hospital Pompéia, em Caxias do Sul. Foi pensando nisso que a instituição inseriu recentemente o projeto de visitas estendidas, possibilitando que familiares permaneçam até 12 horas junto do paciente. A ideia é que o atendimento humanizado promova a recuperação mais rápida do enfermo, a partir da segurança transmitida pela família ao lado.
Por meio da nova prática, pacientes selecionados pelo hospital poderão ter a companhia de dois familiares, que se revezam das 9h às 21h, durante todos os dias da semana. Antes de utilizar o benefício, os acompanhantes passam por uma espécie de treinamento com o setor de psicologia para se adaptarem à nova rotina e também devem cumprir regras, como usar uma veste especial e higienizar constantemente as mãos, uma das normas básicas para quem circula pela UTI. Atualmente, três pacientes das UTIs 1 e 3 participam da iniciativa. Os acompanhantes do horário estendido recebem o almoço servido gratuitamente no refeitório do hospital.
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— Imagina uma pessoa de mais de idade, que interna no hospital, e tem que ficar sozinha, sem a companhia de nenhum familiar. Ela vai ficar ansiosa, deprimida e isso vai ter reflexo na recuperação dela. Por isso, estamos ofertando para esses pacientes que as famílias fiquem próximas. Outra coisa que vem ao encontro da proposta do programa é desmistificar essa ideia que as pessoas têm em relação à UTI, que é um lugar sombrio e de sofrimento — explica a coordenadora da unidade de terapia intensiva do Pompéia, Camila Della Mea Deimomi.
A escolha dos pacientes que poderão receber a visita ampliada obedece fatores técnicos, como o nível de consciência do enfermo; pacientes sem tubos e clinicamente estáveis, entre outros. Além disso, a condição social e a idade também são levadas em conta pela equipe do hospital. As famílias que não se encaixam na proposta continuam fazendo as visitas tradicionais, por 30 minutos, três vezes ao dia.
— A gente entende que só tem benefícios. Percebemos nas avaliações que já fizemos que a família fica mais incluída no processo de melhora e o paciente fica mais seguro por ter um rosto conhecido por perto — reforça a psicóloga clínica Débora Nicolao Cavali.
Dona Nair melhorou com a presença da sobrinha
As visitas estendidas ocorrem desde o mês de setembro no Hospital Pompéia. Desde então, cerca de 20 pacientes já foram beneficiados com a aproximação com os familiares. Atualmente, três enfermos têm a companhia 12 horas por dia no hospital, e a ideia da coordenação é aumentar ainda mais esse número.
Internada na UTI 1 há 23 dias, a família da paciente Nair Duarte da Silva, 66 anos, comemora a evolução no quadro de saúde da idosa depois da inserção da visita estendida. Ela está hospitalizada por conta de uma embolia pulmonar e traumatismo craniano decorrente de uma queda. Há cerca de 15 dias, tem a companhia da sobrinha Celoni Preussler durante boa parte do dia.
O tempo maior de permanência no leito trouxe mais qualidade de vida, inclusive, para a sobrinha. Moradora de Criúva, Celoni passava mais tempo se deslocando entre o distrito e a cidade do que propriamente cuidando da tia.
— Ela sempre estava sedada. A partir do momento que eu passei a ficar aqui, foi retirada a sedação. Eu acho que se continuasse daquela forma, a tia não ia se recuperar, a gente nem contava mais com ela. E eu sei o quanto isso é bom, porque já fui paciente de UTI e sei como é sentir falta de um toque, de ouvir a voz de quem a gente gosta — conta a familiar.
Exemplos na região
Na Serra, o Hospital Tacchini, de Bento Gonçalves, está envolvido no projeto UTI Visitas, do Ministério da Saúde, e inspirou a proposta da instituição caxiense. No caso de Bento, os acompanhantes podem permanecer junto ao paciente das 10h às 22h.