Para não deixar a população de Caxias do Sul sem coletivos em caso de nova greve dos ônibus, o Sindicato das Empresas de Fretamento e Turismo da Serra Gaúcha (Sinditranspf) vai colocar ao menos 248 veículos para circular nas ruas da cidade de forma gratuita. A ação, organizada em parceria com o Sindicato do Comércio Varejista (Sindilojas), foi idealizada pela Murbi, uma plataforma de transporte privado que opera desde fevereiro deste ano no município.
Na próxima segunda-feira, os funcionários da Visate – que paralisaram totalmente as atividades no dia 20 de março e na manhã do dia 21 – podem novamente entrar em greve se a empresa não apresentar uma proposta para o dissídio salarial da categoria. A concessionária, por outro lado, afirma que só pagará o benefício em caso de discussão do reajuste da passagem dos ônibus, congelada pelo prefeito Daniel Guerra (PRB) em R$ 3,40 no começo da sua gestão. Não há indicativos de resolução do impasse, que chegou a ser mediado pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT).
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Nesta quinta-feira, Guerra garantiu que não vai encontrar a diretoria da Visate para discutir a tarifa do transporte coletivo. A declaração ocorreu mesmo após a empresa anunciar que entrará na Justiça se não for recebida pelo prefeito até a próxima sexta-feira. Prevendo uma nova paralisação, que deve afetar até 100 mil pessoas que utilizam diariamente os coletivos em Caxias, as entidades privadas se organizaram e conseguiram o apoio de 11 empresas para a ação. Ainda não há detalhes sobre itinerários, horários e um prolongamento da gratuidade.
– A greve se limita a não mais do que 16% da frota de todo o transporte do município. Há vários modais e segmentos que jamais aparecem. Todos eles reajustaram os salários dos motoristas no ano passado e não tiveram aumento (nas tarifas). Num momento desses, em que a população fica a pé, queremos ser solidários e mostrar que existimos – diz o responsável pela Murbi, Rodrigo Piorezan.
A prefeitura de Caxias do Sul apoia a iniciativa, mas ressalta que é preciso analisar com a Procuradoria-Geral do Município (PGM) se há restrição legal para a operação. Os ônibus e micro-ônibus não poderão cobrar passagens.
– Assim que recebermos formalmente isso, levaremos à PGM. Se estiver tudo legal, não vejo problemas. Prefiro não me manifestar ainda. Porém, vejo como uma atitude positiva, sem dúvida – salienta o secretário municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade, Cristiano de Abreu Soares.
"Não vou voltar atrás", fala prefeito
Em entrevista à Gaúcha Serra na última quarta-feira, o diretor-administrativo da Visate, Gustavo Marques dos Santos, disse que a ação contra a prefeitura deve ser protocolada na próxima segunda-feira se não houver diálogo até o fim da semana. Este é o prazo dado pelo Sindicato dos Rodoviários para a empresa apresentar uma proposta de dissídio. Se nada for feito, a greve será retomada.
De acordo com Santos, a principal solicitação da ação judicial é a de cumprimento do contrato de concessão no que diz respeito ao reajuste do preço da passagem. O argumento é que a prefeitura e o Conselho Municipal de Trânsito, ao decidirem manter o bilhete em R$ 3,40, descumpriram o contrato por não levarem em conta o trabalho elaborado pela divisão técnica da Secretaria de Trânsito, concluído em dezembro do ano passado, que apontava que o valor deveria ser de R$ 4,01
– Não vou voltar atrás de decisão que foi resolvida pela comunidade – declarou Daniel Guerra.
Na Justiça, a Visate concordou que uma nova paralisação tem de garantir que 100% das linhas circulem nas Estações Principais de Integração (EPIs) em horários de pico (entre 6h30min e 8h30min, e das 17h30min às 19h30min), e 50% nos demais horários. Em outras linhas, nos horários de pico, 50% das linhas terão de estar nas ruas, e 20% nos horários intermediários.
Em um dia de greve, o setor metalmecânico calculou prejuízo de mais de R$ 3,5 milhões. O Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico (Simecs) apontou que o valor deixou de ser faturado com apenas com os 30 minutos de atraso, em média, no início da jornada dos trabalhadores. O problema seria evitado com o transporte privado.
Conforme o diretor-executivo da entidade, Odacir Conte, empresas de pequeno, médio e grande porte informaram que os funcionários que dependem dos ônibus da Visate tiveram dificuldade para cumprir o horário. Juntas, essas fábricas avaliadas absorvem cerca de 40% da mão de obra dos metalúrgicos na cidade.