Após o ataque a dois bancos e a uma lotérica em Nova Roma do Sul no começo da tarde desta terça-feira, um agricultor definiu a sensação de insegurança nas pequenas comunidades da Serra.
- Estão roubando várias cidades do interior, era certo que viriam até aqui - ponderou Ivanildo João Sundstron, 50.
O homem parece ter razão. Já são 18 ataques à mão armada contra bancos neste ano, todos com reféns e em municípios com baixo efetivo policial. A sequência desta terça-feira parou a área central de Nova Roma do Sul. Três homens armados e mascarados invadiram o Banco do Brasil, uma agência do Sicredi e uma lotérica na Rua Júlio de Castilhos, estabelecimentos situados na mesma quadra.
Os criminosos fizeram um cordão humano com cerca de 25 pessoas, que passavam pela rua ou estavam dentro dos estabelecimentos. Na fuga, os bandidos levaram três reféns, que foram liberados na comunidade de Castro Alves, a cerca de 5 km do centro da cidade.
O proprietário da lotérica, Gilmar Lodi, 53 anos, descreveu o ataque:
- Um homem entrou aqui com uma refém do primeiro banco e gritando que queria dinheiro. Daí, abri a gaveta e o cofre e dei o que tinha. Depois me mandaram ficar de mãos dadas com os outros reféns. Enquanto um bandido ficava com nós, o outro falou "agora vamos assaltar o Sicredi". Daí, eles trouxeram todos os funcionários e clientes do banco e colocaram ali com nós. Quando saíram, eles pediram de quem era o carro que estava bem na frente. Pegaram a dona da caminhonete, carregaram uns coletes, armas e mais dois reféns e foram embora. Eu estava calmo, mas teve pessoas que passaram mal.
Segundo Lodi, a polícia chegou em seguida.
- Aqui é uma cidade tranquila, mas eu quero vender a lotérica, quero ir embora até do país. Segurança no Brasil não existe mais. O policiamento enfraqueceu - desabafou a vítima.
Dona da Hilux utilizada pelos criminosos para fugir, a rainha da 12ª Festa da La Prima Vendemmia, Daiane Klóss, 23, também virou refém.
- Eu estava no Sicredi e quando iria entrar no Banco do Brasil vi pessoas de mãos dadas no meio do rua e sob a mira de um bandido. Nessa hora, ele (ladrão) me pegou e me mandou ficar junto com essas pessoas. Depois, um deles entrou no banco do Sicredi e colocaram funcionários e clientes também no meio da rua - conta Daiane.
Segundo a jovem, um homem saiu com uma mochila do Sicredi e disse aos comparsas que era a hora de ir embora.
- O meu carro estava estacionado em frente ao banco do Sicredi e eles pediram de quem era o proprietário e onde estaria a chave. Eu falei que o carro era meu. Daí, eles me mandaram sentar no banco de trás e colocaram junto mais dois reféns. Nos deixaram em uma parada de ônibus e foram embora. Durante esse percurso eles largaram pedaços de vidro no asfalto. Eles não ameaçavam, não falavam nada - explica Daiane.
Janete Teichnann, 41, que também mora na cidade, teme pela segurança dos outros moradores.
- Os bandidos estão fazendo o que querem e em todos os lugares. É uma sensação de insegurança total - comenta Janete, que é proprietária de um mercado distante cerca de 50 metros dos estabelecimentos assaltados.
A delegada responsável pelo caso em Nova Roma do Sul, Suely de Fátima Rech, diz que diversos órgãos de segurança pública do Estado estão empenhados em identificar a quadrilha responsável pela série de assaltos a bancos do interior.
- Estamos investigando, mas tudo indica que os criminosos fazem parte de uma mesma quadrilha - afirma a delegada.
Os criminosos usavam um Voyage preto roubado havia 40 dias em Caxias do Sul. O veículo foi deixado em frente ao Banco do Brasil. A Hilux utilizada na fuga já foi localizada. Segundo a Brigada Militar, os bandidos teriam roubado um outro veículo e fugiram em direção a Farroupilha.
Bancos da Serra
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Três ladrões invadiram dois bancos e uma lotérica na tarde desta terça-feira
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