A complexidade das investigações e a falta de policiais nas cidades do interior continuam sendo combustíveis para os ataques a bancos na Serra. Na sexta, o alvo dos criminosos foi a única agência bancária de Alto Feliz, município de três mil moradores no Vale do Caí. É o 13º caso em 50 dias na região. Até sexta-feira, nenhum bandido havia sido preso pelos ataques.
Assalto a banco em Flores da Cunha é o 10º ataque em menos de um mês na Serra
Ainda que o Departamento Especial de Investigações Criminais (Deic) trabalhe com a hipótese de que pelo menos duas quadrilhas agem na Serra, a investigação esbarra na falta de informações.
- É uma investigação complexa. Eles (ladrões) chegam encapuzados, são rápidos, a ação dura alguns minutos, não levam grande quantidade de dinheiro. Não posso detalhar nossas medidas, mas é uma prioridade. Sabemos que são situações traumáticas - justifica o delegado Joel Wagner, da Delegacia de Roubos do Estado.
Alto Feliz tem um posto da Brigada Militar com três PMs. Um foi deslocado para atuar na Operação Golfinho, a exemplo de outros servidores da região. Por conta dessa redução, os policiais que permaneceram na cidade foram acionados para operar não apenas em Alto Feliz, mas em parceria em outros quatro municípios: Feliz, São Vendelino, Vale Real e Linha Nova. Resultado: no momento do assalto, não havia policiais em Alto Feliz.
Este é o segundo assalto à agência Sicredi em Alto Feliz em pouco mais de dois meses. No primeiro, no dia 4 de dezembro de 2015, criminosos também invadiram o banco e fugiram com dinheiro. Em uma comunidade que contabilizou apenas 12 casos de furtos e dois roubos no ano passado, a sequência de ataques assusta:
- Já é uma espécie de tradição diminuir o policiamento durante a Operação Golfinho. Ocorre todo ano. Por várias vezes, tentamos contato com o Estado para contornar isso, sem sucesso. Não houve violência nos assaltos, mas são perigosos, com armas e reféns - avalia o secretário Municipal de Administração, Marcelo Sauthier.
O ataque
A agência do Sicredi, no centro de Alto Feliz, foi invadida pouco depois do meio-dia de sexta-feira por quatro criminosos com armas curtas. Eles quebraram o vidro da porta giratória do banco com uma marreta, renderam o vigilante, quatro funcionários e três clientes, ordenando que deitassem no chão.
Foi levado o dinheiro dos caixas de atendimento. A quadrilha não investiu contra o cofre e caixas eletrônicos . Na fuga, os ladrões levaram o vigilante como refém e o liberaram uma quadra depois, segundo a Brigada Militar de Feliz. Ninguém ficou ferido. O grupo fugiu em uma Ecosport pela VRS-826, estrada de acesso a Farroupilha. Miguelitos foram espalhados pelo caminho. O carro foi abandonado na localidade Morro Gaúcho, estrada vicinal que dá acesso ao município de Vale Real e ao interior de Caxias.
OUTROS CASOS DO ANO
Esmeralda
7 de janeiro: na madrugada, dois homens arrombaram a agência do Banco do Brasil e furtaram armas e coletes da sala dos vigilantes. Os ladrões fugiram sem acessar o cofre.
8 de janeiro: por volta das 11h30min, o Banco do Brasil e o Banrisul foram atacados simultaneamente. Bandidos chegaram na cidade em dois carros e fortemente armados. Pelo menos cinco criminosos renderam moradores e fizeram um escudo humano nas duas ações. Ninguém foi preso.
Flores da Cunha
8 de janeiro: no mesmo horário em que a quadrilha agiu em Esmeralda, três criminosos quebraram a machadadas as portas do Banrisul de Otávio Rocha, distrito de Flores da Cunha. O trio rendeu clientes e funcionários. Em seguida, os assaltantes pegaram dinheiro do caixa e o revólver do vigilante. Reféns foram usados como escudo na rua diante de uma eventual ação da polícia.
Nova Pádua
18 de janeiro: por volta das 11h30min, três homens armados roubaram armas dos vigilantes e dinheiro do Banco do Brasil. Por volta de 11h30min, eles quebraram uma vidraça e tiveram acesso ao banco. Uma funcionária levada como refém foi liberada em seguida.
Cambará do Sul
23 de janeiro: o Banrisul foi arrombado por volta das 5h. De acordo com a Brigada Militar, os criminosos abriram dois caixas eletrônicos com maçarico. Os ladrões fugiram em dois veículos. Houve perseguição, mas ninguém foi preso.
Monte Belo do Sul
26 de janeiro: no início da tarde, o Banco do Brasil foi invadido por três homens armados. Eles quebraram o vidro com um machado. Os ladrões fugiram com dinheiro do cofre e de dois terminais eletrônicos. Uma refém foi liberada logo depois.
Vacaria
27 de janeiro: na madrugada, um homem de 25 anos foi preso ao tentar arrombar caixas eletrônicos do Banrisul, no centro de Vacaria. Ao avistar policiais militares, o homem fugiu, mas foi detido a duas quadras da agência. Testemunhas relataram que mais dois homens saíram correndo do banco durante a perseguição.
São José dos Ausentes
1º de fevereiro: no início da tarde, pelo menos cinco homens armados com pistolas, fuzil e espingarda assaltaram a agência do Banrisul do município. O bando rendeu vigilantes, funcionários e clientes do banco e, na fuga, levou dinheiro e dois reféns, liberados cerca de 5 quilômetros adiante numa estrada vicinal.
Flores da Cunha
4 de fevereiro: no final da manhã, o Sicredi de São Gotardo, em Flores da Cunha, foi invadido por três homens armados e encapuzados. Eles renderam o vigilante e fugiram levando dinheiro do cofre e dos caixas eletrônicos, além de duas reféns soltas em seguida na linha 60, próximo de São Gotardo. Segundo outros funcionários, toda a ação não levou mais de cinco minutos.
Bento Gonçalves
5 de fevereiro: durante a madrugada, criminosos explodiram a agência do Banco do Brasil, no bairro Botafogo. De acordo com a BM, cinco criminosos participaram da ação. Testemunhas, porém, viram quatro homens entrando. O grupo colocou explosivos em quatro caixas eletrônicos, implodiu os equipamentos e carregou dinheiro. Os assaltantes portavam espingarda e pistola. Eles fugiram em um Corolla prata em direção a Montenegro e São Sebastião do Caí pela rodovia ERS-122.
Cambará do Sul
7 de fevereiro: durante a madrugada, criminosos arrombaram a agência do Banrisul e acessaram o cofre. Não houve reféns.
Insegurança
Treze bancos já foram atacados em 50 dias na Serra Gaúcha
Agência de Alto Feliz foi o último alvo
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