Tiago Signor, 22 anos, jovem que acompanhava Lucas Raffainer Cousandier, 19, e Felipe Veiga, 22, na perseguição que envolveu três soldados da Brigada Militar conversou com o Pioneiro. O rapaz era caroneiro do Ka conduzido por Veiga, que fugiu de uma abordagem da polícia na madrugada de 4 de fevereiro.
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Na perseguição, Cousandier foi baleado e morreu no hospital. Os três PMs envolvidos na ação foram presos preventivamente nesta quinta-feira. Supostamente, segundo a investigação da BM, os policiais teriam colocado duas armas no carro dos jovens e simularam disparos contra a viatura na tentativa de incriminar Veiga, Cousandier e Signor.
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Confira a entrevista com Signor:
Pioneiro: O que aconteceu naquela noite?
Tiago Signor: Estávamos bebendo na casa de amigos em Bento e nós três decidimos ir embora. Estávamos com muita fome e resolvemos comer alguma coisa. Então, fomos num bar aqui em Bento para comer um pastel e estava fechado. Lembramos que tinha um restaurante em Carlos Barbosa e fomos para lá, só que estava fechado também. Aí optamos em ir para Caxias, pois tínhamos certeza que o McDonald's estaria aberto. A viagem foi normal, entramos na cidade e passamos pelo posto da polícia (no Parque Cinquentenário) e foi quando eles (os policiais) começaram a vir atrás de nós.
Por que vocês fugiram da polícia?
Nunca tínhamos sido abordados pela polícia e como tínhamos bebido, ficamos com medo de perder a carteira, de sermos presos e começamos a fugir. E aí não tinha mais como parar, porque ficamos com medo que acontecesse justamente o que aconteceu.
Quando vocês foram abordados?
Chegando na perimetral (perto do entroncamento com a Avenida São Leopoldo) decidimos parar o carro e começamos a frear, porque ali tem uma curva, e aí ouvimos os disparos. Dois foram no carro, e um atingiu a cabeça do Lucas. Batemos o carro no meio fio quando o Lucas tomou o disparo. Quando vimos que ele tinha sido baleado paralisamos na hora. Daí paramos ali, eles mandaram a gente descer. O Lucas ficou no carro desacordado, mas ainda estava respirando. Eles nos mandaram sair, colocar a mão na cabeça e deitar no chão. Ficamos uns 10 minutos deitados no chão e aí chegou outra viatura. Colocaram a gente no banco de trás dessa outra viatura e eles ficaram dando voltas com nós pela cidade por uns 15 minutos. Depois, levaram a gente de volta para o local onde estava o carro. Quando chegamos no local do acidente, que já tinha ambulância e mais carros da polícia, uma policial pediu sobre o que eram aquelas armas dentro do carro. E a gente falou: que arma? Imagina, eu nunca andei com arma na minha vida. Não tinha porque andar, a gente só estava se divertindo e queria comer.
As armas não eram de vocês?
Não, a gente nunca teve arma. A gente sempre foi de bem, não temos ficha na polícia, a gente sempre foi na boa.
O que os PMs perguntaram quando vocês desceram do carro?
Perguntaram porque tínhamos fugido, falaram que não era para ter feito isso. Mas nunca imaginamos que eles iriam atirar. Achamos que uma hora eles iam nos parar e que a gente ia para a delegacia e pronto. Foi o que passou pela nossa cabeça. Mandaram a gente ficar com a cabeça no chão, a gente tentava olhar para o Lucas e para o carro, e eles não deixavam.
Enquanto vocês andavam de carro pela cidade, os PMs falaram com vocês?
Ficaram fazendo perguntas, de onde a gente era, o que estava fazendo ali, se tinha passagem pela polícia, perguntas de policial.
E o que aconteceu quando vocês chegaram na delegacia?
Levaram a gente para posto da Polícia Civil para fazer um exame e verificar se a gente tinha pólvora nas mãos e também para fazer o teste do bafômetro, para ver se realmente estávamos embriagados, o que estávamos. Aí foi chamada a família para pagar a fiança. Depois, fomos levados para a delegacia onde ficamos em uma sala algemados por mais ou menos duas horas, quando eles viram que a gente era gente de bem até tiraram as algemas de nós. Ficamos na delegacia das 6 da manhã até as 11h para dar depoimento.
Como está a vida de vocês agora?
Quando o policial veio e disse que o nosso amigo estava em estado muito grave e que poderia ter morte cerebral, ficamos em choque. Não parecia que isso estava acontecendo, parecia que era um pesadelo. Agora a gente está recebendo conforto de amigos e familiares porque o Lucas era uma pessoa muito alegre, sempre com sorriso no rosto, sempre disposto a se divertir com nós. Ele tinha muitos amigos. Foi muito complicado perder ele dessa forma. Agora a gente só quer provar que a gente não fez nada e que a gente só queria se divertir. Queremos que a justiça seja feita.
Polícia
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