No papel e na intenção, a obra na Avenida Arthur Perottoni, no bairro Forqueta, em Caxias do Sul, é exemplo de mobilidade. Mas uma pichação na pista da futura ciclovia indica que a via também é passarela da discórdia.
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Na madrugada desta sexta-feira, pessoas não identificadas rabiscaram uma frase contra a faixa exclusiva para ciclistas. Para chamar a atenção, usaram tinta azul no fundo vermelho do asfalto.
A obra integra o projeto de revitalização da avenida, concebida pela prefeitura e executada em parceria com a Codeca. Tem morador que concorda, tem morador que não aceita.
- Bateram tanto no prefeito Alceu (Barbosa Velho) por causa de ciclovias, e agora que estamos fazendo jogam contra. Isso é lamentável - diz o diretor-presidente da Codeca, Paulo Ballardin.
Não é a primeira manifestação contra a ciclovia na comunidade, mas tampouco é uma briga com conotação política. No semestre passado, mais de 200 pessoas confirmaram a oposição ao projeto por meio de um abaixo-assinado. A principal reclamação era a proibição de conversões e retornos de veículos ao longo da avenida, principal acesso ao bairro pela ERS-122.
Diante disso, a Secretaria de Trânsito, Transportes e Mobilidade mudou o projeto e transferiu a faixa do canteiro central para a lateral da avenida, no sentido bairro-rodovia. A alteração não afastou as proibições de conversões, apenas reduziu a quantidade de manobras. Agora, os comerciantes temem que a ciclovia afaste clientes pois se tirou os estacionamentos, uma situação que perdurava havia décadas.
O ex-presidente da Associações de Moradores de Forqueta, Diniz Zuccoloto, foi um dos responsáveis por encaminhar o abaixo-assinado a pedido de outras pessoas. Ele garante que não é contra a ciclovia, mas vê perigos para ciclistas por conta do grande fluxo de carros e caminhões.
- Ali é uma pista de rodagem. Tem três ruas transversais que cortam a ciclovia. Vai ter criança de bicicleta, pode dar acidente. Tem outros lugares em Forqueta que seriam melhores para as bicicletas - aponta Zuccoloto.
Para o secretário de Trânsito, Manoel Marrachinho, a polêmica é impulsionada por gente preocupada com a própria comodidade.
- Antes tinha um carreira de barro com restos de asfalto. O bairro vai receber uma via alargada, com calçadas e sinalização. A ciclovia é segura, terá toda sinalização. O que se tem é um conjunto de moradores e comerciantes que não querem a ciclovia pois vai tirar o estacionamento e a possibilidade de converter onde querem - rebate Marrachinho.
A relações públicas Sandra Bonetto, moradora de Forqueta, não vê a ciclovia como prejudicial. Para ela, a rixa surge a partir de uma questão cultural: parte dos forquetenses não estaria preparada para lidar com mudanças. Sandra cita um recente passeio ciclítisco que atraiu cerca de 300 pessoas.
- Se as pessoas de fora valorizam, por que não podemos valorizar? Sou a favor da mobilidade, a tudo que traz benefícios. É uma questão de aceitar a mudança que vem para melhor. Muitos ciclistas circulavam por entre os carros na avenida. A ciclovia é mais segura - opina.
Além da ciclovia, a revitalização da avenida inclui a nova pavimentação numa extensão de 600 metros de via, alargamento de pista, nova iluminação, paisagismo e calçadas. A conclusão das obras está prevista o final do ano. Orçada em R$ 2,5 milhões, a recuperação deve custar R$ 2,4 milhões.
Via da discórdia
Moradores descontentes picham ciclovia em avenida de Forqueta, em Caxias
Parte dos moradores é contra faixa exclusiva para ciclistas na Arthur Perottoni
Adriano Duarte
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