A revelação pode vir a ser dura para algumas pessoas, em especial aquelas teimosamente centradas em si mesmas, mas a verdade precisa ser dita e lembrada com frequência: o mundo não surgiu a partir do nosso nascimento. Você e eu não somos as pessoas mais incríveis e fundamentais de todo o universo, não, lamento. O mundo, é preciso que se diga, existe há bem mais tempo do que qualquer um de nós, e não foi criado para servir aos seus desejos e propósitos, nem aos meus. Pois é, lamento de novo, mas é isso aí. Já estamos em idade de saber das coisas e, convenhamos, depois daquele choque relativo à questão do Papai Noel, nada mais pode nos amargurar tanto, não é mesmo? Criamos casca grossa.
E essa grossa casca se faz necessária ao longo de toda a nossa existência, sempre tão curta e efêmera, para enfrentarmos com dignidade e maturidade as situações que a vida real nos apresenta. Uma delas, e das mais importantes, é a compreensão de que não surgimos do nada, vindos ao mundo como se fôssemos um marco zero para a História da humanidade. Não, nada disso. Somos, isso sim, cada um de nós, frutos diretos de um mundo que já existia antes de nossa chegada chorosa, desdentados e carecas, abrindo espaço e dando início à nossa trajetória individual. Cabe a nós desenvolver a capacidade de aprender com os fatos do passado e com as experiências dos que viram antes de nós para enfrentar esse mesmo desafio de posicionar-se humanamente frente à vida e dar a ela (à vida de cada um) um sentido que nos dignifique perante nossos próprios espelhos.
Muitos já fizeram isso antes de nós, e é exatamente por isso que houve espaço para que surgíssemos. É aos que vieram antes que devemos agradecer por terem se esforçado em construir, tijolo por tijolo, uma civilização para habitarmos e por nos deixarem um legado de erros e acertos que nos vão servir de exemplo e amparo ao longo de cada um de nossos próprios dias. Daí a necessidade de homenagearmos a memória dos que nos antecederam e que já terminaram suas trajetórias no tablado da existência, desempenhando os papéis que lhes cabiam na peça da vida.
Opinião
Marcos Kirst: somos todos figurantes nessa complexa peça escrita em conjunto e em tempo real por cada um de nós
Cabe a nós desenvolver a capacidade de aprender com os fatos do passado
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