Eu, por exemplo, preciso delas seis dias por semana, quatro semanas por mês, onze meses por ano (onze, e não doze, afinal, cronista mundano também tira férias). Invoco a graça de receber o hálito doce de seus poderes, a verter sobre meu cérebro, minhas sensações e sensibilidades, aguçando minha pretensa capacidade de identificar as coisas do mundo e da vida e retratá-las em crônicas por meio do manejo da arte da escrita.
Quando elas estão de bom humor e de bem comigo, são generosas e, aí, consigo fazê-lo bem (raras são essas vezes, o que, a bem da verdade, é bom, pois que não banaliza o conjunto da obra). Quando estão distantes, centradas nelas mesmas, alheias às banalidades das necessidades dos seres humanos, elas me esquecem, abandonam-me à própria sorte. E aí, eu, que dessas coisas de sorte manjo pouco, preciso usar de minhas próprias (parcas) capacidades para fazer o feijão-com-arroz que a muito custo ajuda a manter a qualidade minimamente acima da linha d´água, evitando o afogamento do cronista no amplo e imenso mar da mediocridade, que tanto aterroriza aqueles que dependem da inspiração para ganhar seu sustento. E para que haja inspiração, é preciso saber agradar às musas, invocá-las com respeito, tratá-las com dignidade, fazer-se à altura das benesses delas, o que não é fácil, ó meros mortais, nada fácil.
Pois é sobre isso, sobre musas, sobre musas de verdade e sobre musas de papel, sobre inspirações e sobre processos criativos que entraram para a história da literatura universal que tratará o Órbita Literária especial previsto para esta segunda-feira, a partir das 20h em plena Praça Dante Alighieri. Movido pela recente inauguração da estátua de Beatriz, a musa inspiradora do poeta Dante Alighieri, junto ao busto deste na praça, o Órbita convida a comunidade a assistir ao bate-papo temático que historicamente sairá desta vez dos domínios da Livraria e Café Do Arco da Velha (tradicional cenário dos encontros culturais das segundas-feiras à noite, para onde, aliás, será transferido o happening caso as musas resolvam chover) para ganhar o ar livre da praça sob a luz das estrelas. O andamento dos trabalhos estará a cargo deste cronista que vos escreve, juntamente com os escritores Uili Bergamin, Tiago Marcon e Lúcio Sareta, com a participação do convidado especial José Clemente Pozenato. Tudo de graça. Musos e musas são todos benvindos.
Opinião
Marcos Kirst: é sobre musas de verdade e musas de papel que tratará o Órbita Literária desta segunda
Para que haja inspiração, é preciso saber agradar às musas, invocá-las com respeito, tratá-las com dignidade
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