Pedro e Pedroca Pedrosa formam com seus filhos, Pedrinho e Pedrita, uma família de moradores de Caxias do Sul que, aparentemente, vive como todas as demais. Os Pedrosa têm, é claro, as peculiaridades e sonhos próprios que os caracterizam e os diferenciam em um universo de quase meio milhão de habitantes. Mas Pedro e Pedroca batem cartão e assinam o ponto. São trabalhadores, dão duro todo dia. E Pedrinho e Pedrita já estão em idade escolar, vão à escola levados pelas mãos protetoras de Pedro e Pedroca, que os deixam no colégio quando vão para o trabalho. Pedrinho já está até pegando gosto pelo skate. Por uma ventura pouco comum entre os moradores caxienses, os Pedrosa trabalham e estudam no mesmo bairro em que moram.
Uma singularidade, portanto, merece ser destacada em especial. Na terra do automóvel, onde há um carro para cada duas pessoas, os Pedrosa não fogem à regra e também têm o seu, um veículo popular adquirido de forma financiada e que ainda está sendo pago. Mas um aspecto os diferencia: o carro deles tem utilização racionalizada, apenas para passeios eventuais, emergências e percursos mais longos, já que também se valem do transporte coletivo como apoio essencial.
Assim, os Pedrosa são pedestres na maior parte do tempo. Pedestres por opção, em uma cidade em que o automóvel é venerado com enorme devoção. A ponto de seus administradores públicos, com frequência, recorrerem a projetos que retiram espaço dos pedestres para entregá-los aos carros, sob a desaprovação e tristeza dos Pedrosa.
Onde um dia houve um calçadão na Praça Dante, uma pracinha para crianças cedeu lugar para os carros, sem que surgisse dessa escolha dos administradores algum benefício direto visível para a qualidade de vida no centro da cidade. Muito pelo contrário. Na Avenida Rio Branco, também. Pensou-se em retirar ipês e estreitar calçadas porque os carros, ora, eles precisam ser priorizados, o que deixou, na época, os Pedrosa boquiabertos diante de tamanha pretensão.
Não é só isso. Os pedestres em Caxias do Sul padecem de outras formas: calçadas ou não existem, ou apresentam buracos e irregularidades de conserto demorado, isso quando eles são providenciados. Há esquinas críticas para os pedestres e, apesar de alguns investimentos recentes, o número de sinaleiras com tempo exclusivo para eles ainda está aquém do necessário. E, em especial em algumas vias da cidade, pobre pedestre! São os casos da BR-116 e das perimetrais. Quando o assunto é proteger o pedestre, por exemplo, para instalar uma passarela perto de uma escola, no bairro São Ciro, a demora foi de 6 anos.
Essas adversidades e hostilidades todas não desanimam os Pedrosa. Eles permanecem pedestres, com convicção. Entendem, e estão cobertos de razão, que Caxias do Sul somente será uma cidade verdadeiramente humana quando valorizar seus pedestres. Deslocam-se todo dia a pé para o trabalho e a escola, mas testemunham cada coisa! É carro estacionado sobre calçada, sobre faixa de segurança, em fila dupla na frente do colégio das crianças, e as calçadas são cheias de defeitos. Às vezes, sequer elas existem, e crianças precisam caminhar pelo meio das ruas.
A situação é tão grave e expõe a risco tantas pessoas, especialmente crianças e idosos, que Pedrão chamou a família para tomar uma decisão:
- Precisamos fazer alguma coisa - sentenciou ele.
Então, conversa vai, conversa vem, a família decidiu ser protagonista no trânsito. Todos eles serão fiscais em defesa do pedestre. Prontificaram-se ao Pioneiro serem chamados sempre que os moradores da cidade precisarem para evidenciar cada problema, em cada canto da cidade, e acompanharem de perto uma solução. Concordaram em criar até um bordão. Quando o pedestre estiver em risco, é só gritar "Chama o Pedro!", que a família inteira irá tomar providências.
Trânsito
Conheça quem são os integrantes da família Pedrosa, a família pedestre
Pedro e Pedroca Pedrosa e os filhos, Pedrinho e Pedrita, circulam preferencialmente a pé pela cidade
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