Entre os 210 casais que atualizaram o estado civil para casados na manhã deste sábado nos Pavilhões da Festa da Uva, em Caxias, um pequeno grupo chamava a atenção por se comunicar em outro idioma. A língua era o único fator que os diferenciava dos demais inscritos da décima edição do Casamento Comunitário - já que também não abriram mão do vestido de noiva, o terno e a gravata. Fazia companhia aos cinco casais de haitianos também o nervosismo. Afinal, em poucos minutos, ao escutar o nome ser chamado no microfone, desfilariam em tapete vermelho e casariam em território caxiense - o mesmo que elegeram como novo lar.
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Marie Kettia Bonheur, 27 anos, exibia unhas pintadas de rosa e maquiagem leve, retocada pouco antes por uma das madrinhas na casa da noiva, no bairro Ana Rech.
A trabalhadora de um frigorífico oficializava a união que mantém há oito anos com Jean Harry Charles, 31, acompanhada da filha Julie, 4. A noiva fez questão de comprar um vestido - garante que os R$ 600 foram muito bem investidos, porque poderá exibi-lo à mãe quando voltar ao Haiti. Conta que é tradição no país comprar o traje e não alugá-lo, para servir como recordação. Marido e mulher não disfarçavam a empolgação de viver o matrimônio. Entre os dois casais de padrinhos, estavam Olga Petitphor e Athanas Précilien, operário da Marcopolo. Quando recebeu o convite para ser testemunha da união de Marie e Jean, Olga encomendou um vestido prateado no Haiti. Chegou por correio há poucos dias, a tempo de vesti-lo no casamento.
- Desejamos muitas felicidades para eles, que são um casal muito trabalhador -disse Athanas.
Aguardavam nas cadeiras de plástico de outra fileira Rony Roger, 30 e Margaritha Dantes, 25, juntos há quatro anos. Eles tinham um motivo especial para estar ali: daqui um mês nasce o primogênito do casal, Cristopher. Eles posavam para várias fotos que seriam enviadas pelo WhatsApp para a família, tentando driblar a saudade e a vontade de estar perto em um momento tão feliz, desabafam. O casório é importante para Rony e Margaritha também porque poderão agora dar um passo no processo de inserção na igreja Testemunhas de Jeová, já que o status de casado é pré-requisito na religião. Eles não fazem planos de deixar a cidade.
- Nós gostamos de Caxias porque tem trabalho. Estamos muito felizes por poder casar - disse a noiva, que vive no bairro Serrano.
Assim como os outros dois casais, Ezechiel Mexil, 28 e Marie Edna Constant, 27, teriam festa após a cerimônia. Nada muito elaborado, afirmam, mas reuniriam cerca de 20 amigos em um restaurante no Serrano para comemorar. Eles eram colegas de faculdade de pedagogia no Haiti e ficaram anos sem ter contato. Quando encontraram-se em Caxias, engataram o namoro. Neste sábado, o operador de sistemas da Visate agradecia pela chance de poder dizer que é casado no papel passado com quem flertava desde os bancos da universidade. Quando questionado sobre o que mais gostava naquele momento - o dia ensolarado, a decoração, as roupas chiques, ele foi categórico:
- O mais importante é a oportunidade que Caxias do Sul está nos dado, de ser tratado como todos devem ser.
Casaram também Robert Maxime, 47 e Sther Cosimir, 38, que estão em Caxias há um ano e Jean Marckenson Louis, 28 e Lousena Laguerre, 31 - este último casal também incentivado pelos amigos da igreja Testemunhas de Jeová.
- Eles têm ambições de comprar uma casa e ter filhos, as mesmas que nós, brasileiros - definia a madrinha do casal, Sônia Raquel Barbieri Zukovski.
Cidadania
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