Estes dias de ânimos alterados trouxeram à tona um assunto deveras importante mas que raramente emerge: as primárias deficiências da Brigada Militar.
Todos supúnhamos (sabíamos?) que a BM sofre com falta de homens e de mulheres, que há carência de viaturas, de armas, de equipamentos, de combustível. A novidade agora é que fomos informados de que há PMs que pagam coturnos do próprio bolso. Mais, a maior parte das viaturas roda sem licenciamento ou com problemas mecânicos.
Cruz credo, desse jeito o governo perde o restinho de respeito que ainda detinha.
Se nem os carros oficiais têm licenciamento ou rodam sem condições, a pressão para cobrar impostos atrasados do cidadão perde totalmente a moral.
Nada como uma crise para que algumas verdades virem oferendas públicas. Fossem esses dias normais, o comando da BM jamais admitiria que os problemas estruturais da corporação são tão graves.
É na crise de negociações que corruptos e corruptores fraquejam.
É na crise de entendimentos que esquemas de propina são denunciados.
É na guerra pelos pontos de tráfico que os traficantes são presos (ou mortos).
É na busca de interesses próprios que os políticos traem uns aos outros, trocam de barco, se aliam e se desaliam.
A crise entre o governo Sartori e os servidores nos revelou as atuais verdades acerca da BM.
Quando a ponta mais frágil da corda ameaça romper, as bocas se abrem e somos confrontados com algumas verdades. Essas verdades, às vezes, são o que há de pior. Alguns de nós ainda acusam alguma surpresa.
Outros, nem isso.
Bem, agora todos nós, os bandidos inclusive, sabemos que a BM decretou bancarrota (desconfio, inclusive, que essa bancarrota está decretada há tempo, só não fora tornada pública).
Saber disso é bom, a transparência sempre será bem-vinda. Pelo menos agora está claro que a BM não tem condição alguma de proporcionar a segurança que os gaúchos reivindicam.
Nosso castelo foi erguido em bases frágeis, os gaúchos estão se enxergando num espelho doloroso.
É hora de cairmos na real, todos.
Opinião
Gilberto Blume: nosso castelo foi erguido em bases frágeis, o gaúcho está se enxergando num espelho doloroso
Quando a ponta mais frágil da corda ameaça romper, as bocas se abrem e somos confrontados com algumas verdades
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