Também quero inventar um protesto para chamar de meu.
Ok, ok: entende-se que os funcionários do governo estadual foram sacrificados injustamente quando Sartori fatiou-lhes o salário. O protesto, pois, foi justo, justíssimo. O protesto dos servidores foi tão justo que surtiu efeito, fazendo o governador recuar até depositar o salário engavetado.
O recuo político de Sartori resultou no óbvio: a presidente Dilma fechou a torneira que pingava dinheiro no cofre gaúcho porque o Estado deixou de pagar a parcela da impagável dívida que possui com a União para pagar o salário do funcionalismo.
O governador satisfez um lado e insatisfez outro, num claro exemplo de que o cobertor foi encolhido ao longo de anos de má gestão.
A situação do RS, portanto, segue preta, pretíssima.
Mesmo assim, mesmo tendo obtido sucesso no protesto, os servidores seguem mobilizados, protestando, trabalhando menos. Os servidores em estado de alerta alegam que a pauta é mais extensa, que cobram infraestrutura, condições de trabalho.
Estão certos de novo, o serviço público precisa de uma reforma profunda, mas. Mas na prática o ato dos servidores está penalizando a população. Mais, esta não é a hora mais adequada para complicar o que naturalmente já é complicado.
Os municipários de Caxias também acabam de inventar um protesto para chamar de seu. Mesmo com os salários pagos em dia, inclusive com aumento, parte dos municipários cruzou os braços. Também não é hora, também prejudica a população, podendo redundar num bem desferido tiro no pé. Nem me atrevo a comparar a situação dos trabalhadores públicos, com os empregos garantidos, com a situação dos trabalhadores privados - nenhuma comparação seria fiel aos acontecimentos.
A presidente Dilma pode ter cometido muitos e enormes equívocos, mas no fim de semana proferiu discurso coerente com o momento. Ao condenar o vale-tudo na política e criticar a turma que defende o quanto pior, melhor, ela conseguiu resumir um sentimento que se alastra entre a população.
Se você não tem motivos inequívocos, invente um protesto para chamar de seu somente quando seus pleitos forem o menos egoístas possíveis.
Opinião
Gilberto Blume: a presidente Dilma pode ter cometido equívocos gigantes, mas emitiu discurso coerente
Também quero inventar um protesto para chamar de meu
GZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: