A mobilização em torno do casal que permaneceu alguns dias isolado na mata é razoável parâmetro para analisarmos o grau de dependência que estabelecemos com celulares, internet e quetais.
Então um casal não pode mais se isolar na mata incomunicável sem que se lancem cães farejadores em seu encalce?
Alô, patrulha: é valorosa a preocupação dos familiares do casal incomunicável. É bem provável que eu também soasse o alarme caso um casal querido desaparecesse por dias fio. A busca pelo casal, portanto, é louvável, demonstra carinho, denota profunda preocupação.
Mas.
Mas então estamos fadados a permanecer comunicáveis o tempo todo?
Sim.
A atual era da comunicação não cogita mais a existência de zonas neutras, de vácuos, de sombras off line. Todos devemos estar constantemente ligados, recebendo e enviando quilos de informações, informando sem trégua as coordenadas de onde estamos e para onde estamos indo.
Confesso, sinto um tantinho de inveja do casal que optou em largar tudo e viajar meio sem rumo. Inclusive por viajar até pontos ainda desprotegidos pelos sinais eletrônicos, pelos satélites que palmilham nossos rastros, pelas redes sociais com que nos viciamos.
A história felizmente acabou bem, o casal só estava se dando ao direito de usufruir de um cadinho do planeta ainda não rastreado.
Esse casal com certeza é um dos últimos espécimes humanos a experimentar a vital liberdade de estar só no planeta Terra.
Parabéns pela coragem.
