A tragédia que se abalou sobre Ana Clara e sacudiu a cidade mostra, de novo, que nossos maiores problemas não são os buracos no asfalto.
Antes fossem.
Mil perdões se me arrisco a adentrar na seara de Frei Jaime, nobre colega de página certamente mais credenciado a abordar esses assuntos, digamos, morais.
Mas.
Mas arrisco: onde erramos e onde seguimos errando para termos de conviver com barbárie sobre barbárie?
O caso Ana Clara é só o episódio mais recente, não é improvável que neste momento já tenhamos virado a página e estejamos comentando a estreia da próxima tragédia.
Ou que os buracos no asfalto tenham voltado a ser O Assunto.
Por favor, patrulha, não me arvoro a ser exemplo de coisa alguma, tampouco tenho capacidade para emitir julgamentos de valor.
Mas a coisa está indo longe demais.
Nesta semana o proprietário de uma lotérica somou o oitavo assalto.
Oitavo!
Talvez agora já tenha ocorrido o nono, o décimo, o...
Naturalmente não estou comparando o assassinato de Ana Clara com ataques ao comércio.
Embora diferentes em intensidade, as barbaridades estão interligadas, conversam, dizem a mesma coisa.
E o que os acontecimentos dizem é cristalino: faltam políticas públicas básicas para que nasçamos em ambientes mais sadios, menos convulcionados, mais educados, respeitosos conosco mesmo e com quem nos cerca.
De novo: não tenho vocação para pregar, mas qualquer um vê que a situação fugiu do controle.
O que fazer agora, além de sepultar Ana Clara?
Até darmos o necessário giro de 180° vai demorar um bocado, não nos iludamos. Até lá é preciso remediar, endurecer leis, cumprir leis, investir em segurança, cumprir promessas de campanha. Esses remendos, porém, não podem mais ser empurrados com a barriga.
Opinião
Gilberto Blume: até darmos o necessário giro de 180° vai demorar um bocado. Até lá, resta-nos remediar
Não tenho vocação para pregar, mas qualquer um vê que a situação fugiu do controle
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