O esvaziamento das despensas das famílias de Caxias do Sul é mais forte nos bairros pobres. A cozinha comunitária do Núcleo de Capacitação do Cânyon, na Zona Norte, serve diariamente 374 refeições, um quinto a mais do que em dezembro.
Entre as famílias que buscam as viandas carregadas de arroz, feijão, carne e massa, há ex-trabalhadores de grandes empresas da cidade. São metalúrgicos constrangidos na hora de pedir ajuda, mas cujo orgulho é substituído pelo temor de ver a mesa vazia.
- Como a procura está muito grande, fizemos recadastramento. Adotamos o sistema de viandas porque favorece mais, e o que sobra do almoço dá para o jantar. A orientação é de que as cozinheiras e auxiliares reforcem as viandas - explica a coordenadora do Núcleo, Susana Duarte.
Silvio Schio, da Pastoral do Pão da Paróquia São Francisco, na Zona Sul, se diz impressionado com a demanda que aumentou nas últimas semanas. Há mães separadas com filhos, dispensadas do emprego formal ou da função de diaristas:
- Tínhamos 26 famílias que recebiam cestas. Deixávamos 30 preparadas para o caso de uma emergência. Neste mês entregamos 31 cestas e houve pedido de inclusão de mais 6 famílias. Teve duas famílias indicadas pela paróquia e outras que vieram por conta própria, por indicação de outros. Isso assusta.
Restaurante popular não supre procura
A diretoria de Segurança Alimentar e Inclusão Social de Caxias finaliza estudo para saber porque numerosas famílias não conseguem deixar os programas sociais. A única certeza é de que a crise econômica atrairá mais homens e mulheres para os braços do governo.
A coordenadora do setor, Janete Tavares, chama a atenção para a classe média apelando ao restaurante popular, onde o prato custa R$ 1.
- De um mês pra cá, sobram de 30 a 40 pessoas que não conseguiram comida. Não é o pobre de antes, mas desempregados. É aquela pessoa que está no centro, foi ao postão, está procurando trabalho e fica sem ter onde comer. Pedem cesta básica no restaurante, mas não é o nosso serviço - comenta Janete.
Em Caxias do Sul, são servidas pelo menos 24 mil refeições todos os dias para crianças e adultos em situação de vulnerabilidade por meio de programas sociais em escolas, instituições, cozinhas comunitárias e restaurante comunitário. Sem esses serviços, a cidade estaria vivendo uma situação dramática.
AJUDA
Para se cadastrar nos programas sociais do município, informe-se no Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) do seu bairro ou na FAS (3220.8700).
Alerta
Falta de comida é mais perceptível nos bairros de Caxias do Sul
Restaurante popular também tem público acima da capacidade
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