* Tríssia Ordovás Sartori (interina)
A feiura é infinitamente superior à beleza, porque ela é para sempre, profetizava o músico francês Serge Gainsbourg.
A premissa é repetida à exaustão pelo jornalista Xico Sá, que acha a maior graça disso, talvez por gozar do mesmo prestígio com as mulheres do que o autor de Je t'aime moi non plus. Em um mundo ditado pela perseguição a um padrão inatingível de beleza, ver alguém falando sobre seu oposto é encorajador - mesmo que seja incomum ver mulheres proferindo palavras sobre seus defeitos.
Não somos perfeitas, mas não queremos nos expor. Quer dizer, até queremos, mas sempre num ângulo super favorável, pois precisamos de aprovações. Curtidas, para ser mais objetiva.
Simples assim.
À medida que a moda passa a reconhecer e usar mulheres idosas em campanhas internacionais, que revistas decidem investir (raramente, é fato) em imagens sem photoshop, que a bíblia-das-gostosas-na-capa Sports Illustrated elege uma plus size para estampar a capa e jovens com vitiligo ou próteses ocupam lugar de destaque, chega a hora de constatar o óbvio: somos como somos. Nossos corpos, rostos ou cabelos encontram equivalência em milhares de outros que permanecem - ou permaneceram - escondidos.
Somos generosas ao apreciar o sexo oposto, encontrando sempre alguma característica que seja agradável (ou aos olhos, ou aos ouvidos ou ao coração). Não temos a mesma complacência com outras mulheres. Achamos absurda a forma com que os corpos são mostrados e comercializados, como adquirem uma aparência falsa e como se fabricam símbolos sexuais. Por outro lado, temos o maior interesse pelas pernas com ou sem hidrogel de Andressa Urach, a barriga sarada da Gracyanne Barbosa ou as gordurinhas de Fernanda Gentil - nossa curiosidade alimenta os sites de fofoca, sabe-se lá por que.
Se ainda não há Jane Birkin ou Brigitte Bardot que nos salve, pelo menos há um sinal de que precisamos nos aceitar como somos - ou, pelo menos, como aprendemos a aceitar os homens.
Opinião
Tríssia Ordovás: Chega a hora de constatar o óbvio: somos como somos
Não somos perfeitas, mas não queremos nos expor
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