Admito que não tenho opinião 100% formada a respeito da mudança da Feira do Livro para a Estação Férrea. Mudanças são bem-vindas, senão os entendidos em evolução e comportamento não preconizariam que é de bom tom estarmos receptivos a mudar para não perdermos o trem da história.
Há um ponto nessa polêmica, contudo, que ainda não consegui equalizar. É o seguinte:
Os amantes da leitura vão aonde os livros estão. Seja na Praça Dante, seja na Estação Férrea, seja em qualquer ponto, a Feira do Livro atrairá os fãs, os apaixonados, os leitores. Essa nem tão volumosa massa seguirá a Feira do Livro porque segui-la é item de primeira necessidade. Os organizadores, aposto, repetiriam em qualquer endereço a qualidade estrutural da Feira do Livro nascida na Praça Dante. O caso é menos estrutural do que conceitual, porém. O ponto a ser analisado não são os assíduos da Feira, esses vão curti-la no endereço em que for montada porque é O Acontecimento cultural anual da cidade.
O ponto a ser analisado são os cidadãos que precisam de um empurrão para mergulhar na leitura e transformar o livro em item de primeira necessidade. Para esses, reconheçamos, é preferível ter a Feira do Livro a mão, no meio do caminho, na praça central, interferindo no ir e vir, alterando o cotidiano. Não creio que os desacostumados a ler acordem num belo dia de primavera e anunciem:
- Hoje passarei o dia na Feira do Livro!
A Feira do Livro da Praça Dante jamais fica completamente sem público. Sempre, inclusive nos horários mais inglórios para os livreiros, haverá alguém andando pelos corredores, mesmo que seja para alcançar o outro lado da praça e ir ao mercado, à igreja, apanhar o ônibus, o táxi, comprar pão, almoçar, sentar à sombra.
Alguns desses passantes casuais correm sério risco de serem fisgados pelos livros.
Em qualquer outro ponto da cidade esse risco reduzirá dramaticamente, reduzindo também as chances de a Feira do Livro cumprir sua principal função: fazer com que a leitura seja item de primeira necessidade para mais e mais pessoas.
Creio que o ponto da polêmica é esse: tirar a Feira do Livro da Praça Dante será benéfico ou prejudicial para a massa não leitora?
Opinião
Gilberto Blume: Tirar a Feira do Livro da Praça Dante será benéfico ou prejudicial para a massa não leitora?
O ponto a ser analisado são os cidadãos que precisam de um empurrão para mergulhar na leitura e transformar o livro em item de primeira necessidade
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