Entra governo, sai governo, nada muda. Ou, se preferirem, muito pouco muda - e às vezes muda para pior.

Os governadores que recém assumiram ensaiaram jogral: não há dinheiro para pagar o piso do magistério, elevado de R$ 1.697,39 para R$ 1.917,78 (13,01%). Diversos governadores assumiram apertando o cinto, aplicando calotes, zerando investimentos.
No Rio Grande não é diferente.
O governador Sartori ministrou remédio bem amargo, que inclusive pode não resultar em nada, mas suspendeu a nomeação de profissionais aprovados em concurso em áreas estranguladas há anos por falta de gente, caso do magistério e da segurança.
Na cabeça do cidadão, porém, a conta não fecha. Por mais que se tente, está difícil alcançar a compreensão dos paradoxos que marcam os começos de governo. Conta da Confederação Nacional dos Municípios mostra que o reajuste que os deputados estaduais se autoconcederam Brasil afora gerará impacto financeiro mensal de R$ 5,6 milhões. Em 2015, o dinheiro extra que os 1.060 deputados estaduais vão embolsar será de R$ 72,8 milhões. Os deputados gaúchos se concederam 26%, elevando seus salários de R$ 20 mil para R$ 26,3 mil. Tudo dentro da lei: a gauchada aprovou reajuste de 75% do salário dos federais, de R$ 33,7 mil.
2014 fechou ainda com reajustes e benefícios polpudos para os Poderes Executivo e Judiciário.
Tudo dentro da lei.
Essa é a incompreensão que assombra o cidadão. A lei é cumprida quando envolve gente ligada a algum dos três poderes. Quando envolve "apenas" profissionais pagos com dinheiro público, a lei é descumprida. Ou seja, há dois pesos e duas medidas: para políticos, juízes e afins sempre há dinheiro. Para professores, não.
É certo que a patrulha vai atacar o colunista, esse simplista. Podem vir com munição pesada, mas todos sabemos que na prática acontece exatamente isso relatado acima. Por favor, não pretendo ditar verdades, mas a operação e o discurso públicos não batem, a incoerência grita alto. A sociedade que aperta o cinto não poderia excluir (como exclui) do sacrifício quem manda. Políticos, juízes e demais beneficiados com o efeito cascata das leis não fazem parte da sociedade?
Pelo visto, não.