Uma escavadeira e sete funcionários da Codeca e da prefeitura de Caxias trabalharam durante dois dias da semana passada para limpar um trecho de galerias pluviais entre os bairros Vila Ipê e Cânyon. Em dois dias, homens e máquinas trouxeram à tona 42 toneladas de lixo. Sim, 42 mil quilos de lixo travavam o fluxo da água da chuva naquele ponto da cidade. As galerias escondiam um pouco de tudo. Garrafas, calçados, roupas e, pasmem!, 33 pneus e uma máquina de lavar roupas. Na enxurrada dos dias 21 e 22 de dezembro moradores do Cânyon foram atingidos por alagamentos.
A informação acima tem a pretensão de inocentar os moradores do Vila Ipê e do Cânyon da lambança encontrada no subsolo entre os dois bairros. Os culpados somos todos nós que lançamos no chão da cidade papel de balas, sacolas plásticas, bitucas de cigarros, garrafas pets, pneus, lavadoras de roupas...
O destino do lixo que descartamos sem critério e as consequências de nossos atos são previsíveis, sempre foram previsíveis. Pensando bem, seria até fácil alterar essa história. Bastaria que empregássemos um percentual mínimo de nossa razão para pensar o ambiente coletivamente, como sói ser adequado pensá-lo.
Didaticamente: o resíduo largado numa rua qualquer e que escorre para um bueiro está começando a longa viagem pelos subterrâneos da cidade. Tudo o que ingressa nos bueiros corre para o mesmo sentido, a mão é única, até que, em algum ponto, nossos restos se encontram com os restos de outros tantos sem noção e forma um aglomerado, uma imensa rolha de lixo a impedir a vazão das águas. Consequência previsível: alagamentos, alagamentos, alagamentos.
O lixo que dispensamos sem critério nas ruas dificilmente alagará nosso próprio quintal. Nós ajudaremos a alagar o quintal de outro cidadão, possivelmente longe de nós. Caso nosso quintal também alague, a origem do alagamento morará quilômetros longe, lá onde um sem noção jogou lixo no chão. Assim vamos levando a vida, como se nossos atos, bons e maus, não gerassem impacto algum no coletivo. Ademais, funcionários mais máquinas desviados têm serviço mais nobre a realizar do que limpar nossa porquice e amenizar nossa irresponsabilidade.
Opinião
Gilberto Blume: Funcionários e máquinas públicas têm serviço mais nobre a realizar do que limpar nossas porquices
O destino do lixo que descartamos sem critério e as consequências de nossos atos são previsíveis
GZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: