A experiência contada no Pioneiro de ontem por Gabriel Pelissaro de Vargas é daquelas histórias que deveriam virar febre na internet. Todo mundo deveria compartilhar, curtir, recortar e guardar o que o rapaz de 17 anos contou.
Gabriel sobreviveu a um afogamento.
Todos sabem, é raríssimo alguém afundar, ter o organismo encharcado, ser resgatado com um fio de vida, mantido cinco dias na UTI e, ufa!, sobreviver para contar a história.
Não nos iludamos, portanto: Gabriel é exceção.
Quem trabalha em jornal repete um bordão às sextas-feiras: quantos mortos no trânsito e quantos afogados teremos neste fim de semana? Não se apressem a concluir que jornalistas são abutres o tempo todo espreitando tragédias. Não é isso, é que a repetição das tragédias mostra que somos contraproducentes no lazer: passear de carro e brincar na água são atividades mortais, incrivelmente. O bordão das sextas é atualizado aos domingos: quantos mortos no trânsito e afogados temos no fim de semana?
A contabilidade é macabra, mas necessária, pois ainda cremos que noticiar mortos no trânsito e nas águas pode ajudar a conscientizar alguém sobre a importância do bom senso, do equilíbrio, do respeito a si e aos outros. Mas estamos longe desse ideal.
Um elemento que geralmente piora o quadro são as manifestações de familiares e amigos: a demora na localização dos corpos, a demora na liberação dos corpos.
Domingo desses uma moça, desesperada porque o corpo do namorado sumido num rio não era localizado pelos bombeiros, ameaçava ela própria se lançar na água se as buscas fossem interrompidas à noite.
É compreensível, a dor da perda provoca laivos de desespero, mas não podemos achar culpados para justificar nossa própria insanidade (ou de quem se jogou na água e sumiu). Os bombeiros, creiam, fazem o possível para encontrar um afogado no tempo mínimo. No lugar de reclamar dos bombeiros precisamos aprender a não nos afogar. A experiência de Gabriel é coisa rara. Não há por aí muitos afogados ressuscitados para contar a história. Entre os acidentados de trânsito, sobra gente mutilada para lamentar os equívocos cometidos ao volante.
Opinião
Gilberto Blume: Gabriel sobreviveu a um afogamento. Não nos iludamos, porém, Gabriel é exceção
A experiência contada no Pioneiro de ontem pelo adolescente é daquelas histórias que deveriam virar febre na internet
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