Tinha que ser diferente, mas o fato é que estamos causando e sofrendo tragédias muito além do aceitável. O trânsito e as águas são, preferencialmente, os lugares onde mais exibimos nossa insensatez, nossa descautela, nosso desrespeito conosco mesmo e com os outros. As tragédias ainda carregam conteúdo flagrantemente paradoxal, pois os automóveis e as águas estão aí para nos proporcionar prazer, lazer, alegria.
Alguém lembrará de dizer: as estatísticas provam que as mortes no trânsito e os afogamentos estão reduzindo. É verdade, os números não mentem, mas permitam-me jogar água gelada nesse otimismo. Mesmo que as mortes nessas condições estejam diminuindo, ainda matamos e morremos em escalas inaceitáveis. E os danos emocionais que essa matança desenfreada provocam ainda estão longe de aparecer reduzidos nas estatísticas.
Permitam arriscar: tragédias no trânsito e nas águas deveriam inexistir, cair para perto de zero, só serem toleradas quando configuradas como acidentes de verdade, jamais como resultado de nossas irresponsabilidades.
Eu confesso que tenho medo de viajar. Os exageros e excessos que se vê nas estradas são tão absurdos que me sinto a própria mosca do alvo: o próximo posso ser eu. O que deveria ser prazer sempre carrega um senão que a maioria de nós não pode comandar: somos reféns dos livres atiradores.
Água é elemento que temo menos. Não que eu não reconheça os riscos e não respeite os limites. Na água, porém, sei que o único responsável pelo meu destino sou eu próprio. Ninguém me afogará, mas no trânsito posso ser atropelado, posso ser envolvido numa situação limite, posso ser alvo de um maluco.
As mortes na água e no trânsito, de modo geral, são consequência de nossos próprios atos.
Os três caxienses afogados em Torres e todos os recentes mortos no trânsito hoje são chorados por dezenas de pessoas. Por certo os mortos estão perdoados, mas será que não tinha, mesmo, como evitar esses desfechos tão pavorosos?
Opinião
Gilberto Blume: Estamos causando e sofrendo tragédias muito além do aceitável
As mortes na água e no trânsito, de modo geral, são consequência de nossos próprios atos
GZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: