As postagens raivosas na internet condenando a divulgação, pela imprensa, de detalhes das circunstâncias que envolvem a vida e a morte de Henriette Vaccari são, antes de tudo, tentativas de tapar o sol com a peneira. Por certo ninguém deseja ter um familiar, um amigo, um conhecido que seja afundado em depressão. Todos sabemos que essa moléstia arrasta o indivíduo, acaba com a estima, abre caminho para associações e relacionamentos potencialmente perigosos.
É muito penoso, portanto, ver exibidos em praça pública aspectos privados de uma pessoa querida. Se essa pessoa querida morreu, então tudo só piora.
Mas.
Mas os detalhes revelados (e não revelados) são significativos para a compreensão de todo o processo que culminou na morte de Henriette. Ou os familiares, amigos e conhecidos não desejam saber o que aconteceu?
Se os críticos da divulgação das informações se permitissem, conceberiam o episódio Henriette como mais uma busca de socorro, um apelo de uma pessoa em queda que, em dado momento, se lançou com tudo. Onde, afinal, estavam todas essas pessoas que não querem falar abertamente sobre o caso Henriette quando Henriette estava caindo?
Precisamos parar de fazer de conta que não temos problemas, que nossos familiares, amigos e conhecidos não têm problemas.
Todos podemos ter problemas, sim. E alguns desses problemas matam.
Encobrir informações sobre alguém muitas vezes significa que estamos negando o problema, tentando escondê-lo, ignorá-lo a fim de amenizar nossos próprios sofrimentos. A isso também se dá o nome de hipocrisia.
Sentir vergonha alheia é o salvo-conduto que precisamos obter para seguir fazendo de conta que não temos nada a ver com nada. Assim é fácil.
Carlinhos Santos publicou:
pérola
A princesa doente vivia só num castelo sombrio.
Poucos lhe devotavam as honras do passado. Então, a tragédia cantada cumpriu seu vaticínio, num desfecho de solidão e decadência.
E a plebe rumina culpa, desconfiança, medo, acusações.
Feito Dorian Gray, teme a maldição do espelho.
Ver-se é vil.
Opinião
Gilberto Blume: Sentir vergonha alheia é o salvo-conduto que precisamos para seguir fazendo de conta
Todos podemos ter problemas, sim. E alguns desses problemas matam
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