Os 17 leitores da coluna sabem: sou inveterado defensor do pisca-pisca. Não gastarei mais espaço explicando por que defendo o pisca, tampouco alugarei o leitor repisando explicações. Tenho certeza absoluta, porém, que há coisa bem pior do que o condutor que não aciona o pisca. É o condutor que esquece o pisca ligado. Estava eu parado numa esquina, pisca indicando que entraria à esquerda, esperando brecha para avançar. A brecha se deu: uma moto que vinha da esquerda sinalizava, pisca-piscando. Dobraria à direita, ali na rua onde eu aguardava acesso.
O que fiz?
Fiz o que qualquer outro condutor faria: avancei sobre a rua a fim de tomar meu rumo.
Foi então que o ruído se deu: o motoqueiro não entraria à esquerda. Embora a moto pisca-piscasse, o motoqueiro seguiria reto. O pisca piscava por distração, porque tinha vida própria, sei lá.
O caso é que meu ingresso na rua anunciou o desastre. O motoqueiro ziguezagueou, tirou fino de mim, quase topou no cordão, voltou a se equilibrar e, por fim, parou no acostamento lívido de susto, possuído de raiva. Também estacionei. O motoqueiro veio cuspindo cobras porque eu cortara sua frente. Eu disse, afirmei, insisti, resisti:
- Amigo, seu pisca-pisca estava ligado. Tu achas que eu cortaria a tua frente de propósito?
O motoqueiro negou com veemência (e um jato de impropérios) que rodava com o pisca piscando. Em horas de adrenalina fervente é difícil obter consenso, entendimento. Eu agitava a bandeira branca, ele respondia com flechaços. Zero a zero, o placar do nosso debate no asfalto não avançou além de um mísero zero a zero. Eu e o motoqueiro saímos de cena transbordantes de razão.
Foi a segunda vez que caí na armadilha do pisca que deveria estar desligado. Nas duas vezes fui injustamente xingado.
Constato que é comum ver carros e motos rodando com o pisca equivocadamente ligado. Esses condutores desatentos são fortes candidatos a provocar acidentes, ferir alguém ou a si próprios, atropelar. Na hipótese menos grave, esses inocentes do pisca piscando vão subir no diabo da razão a qualquer preço e exigir que o próprio erro seja ignorado.
Se sem pisca é ruim, com pisca pode ser ainda pior.
Opinião
Gilberto Blume: Se sem pisca é ruim, com pisca pode ser ainda pior
Esses condutores desatentos são fortes candidatos a provocar acidentes
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