Gilberto Blume: E assim vamos levando nossa vidinha burra, considerando que temos oponentes, jamais aliados

Dia desses experimentei uma típica troca de "gentilezas", bem ao gosto desses tempos de impaciência, intolerância, pressa.

Ia em direção ao banco. Uma mulher conduzindo um Uno simplesmente subiu na calçada, interrompendo a passagem de todos pedestres que iam e vinham. O Uno ficou atravessado, ocupou toda a calçada.

Eu e os demais pedestres nos esquivamos do carro, invadimos a pista e seguimos nossos rumos. Não me contive, porém, e indaguei a motorista:

- A senhora vai ficar estacionada sobre a calçada?

Ela desembarcou, justificando "é rapidinho, só vou ali no banco".

- Rapidinho... Humpf! - desdenhei.

Ela devolveu raivosa:

- Vá cuidar da sua vida!

Fomos ao banco.

Quando saí o Uno seguia sobre a calçada. Notei que a mulher saia do banco, vinha em direção ao carro, embarcou.

Saquei o celular e fiz de conta que filmava sua manobra de sair da calçada.

A mulher fuzilou:

- Tu vai pagar por isso, seu intrometido de *!*&¨*@%*&@!!!

A mulher desferiu a lista de adjetivos impublicáveis sem sequer corar. Fiquei quieto, humilhado, mas devolvi os xingões erguendo o dedo médio. Também fui indelicado, mas quem disse que tenho sangue de barata?

E assim vamos levando nossa burra vidinha, considerando sempre que temos oponentes, nunca aliados.

A seguir transcrevo reflexões do leitor Ayrton Canani. O conteúdo dos escritos de Canani não se refere aos grosseirões acima (eu mais a mulher do Uno), é mais uma contribuição ao debate que se armou em torno da chegada e da saída dos alunos do Colégio São Carlos. Mesmo assim, por tabela, o chapéu cai bastante bem na cabeça deste colunista e na cabeça da mulher do Uno. Eis:

"(...) Seus escritos refletem bem a falta de senso de comunidade que não poucos têm. Conheço muitos pais que saem um pouco antes para estacionar os carros e ir a pé buscar seu filho na porta da escola.
Aproveitam esse tempo para conviver com os filhos.
Os outros, desconfio que se acham seres superiores, egoístas, etc. Imagino que devem pensar que a lei deve curvar-se às suas vontades." Ayrton Canani