De novo estamos às voltas com atropelamentos na BR-116. Somos absolutamente sem juízo, praticamente criminosos, pois é evidente, é cristalino que o trecho urbano da BR-116 precisa de obras, de investimentos, de atenção verdadeira, de um passo além do recapeamento atualmente em cartaz e que, sejamos francos, só beneficia os automóveis.
A BR repete o que se vê pela cidade: calçadas inexistentes, mal ajambradas, esburacadas, em dissintonia com a pregação dos bambambãs da mobilidade em favor do cidadão, do caminhante, da pessoa, jamais do automóvel.
Ex-prefeito de Bogotá entre 1998 e 2001, o arquiteto Enrique Peñalosa viaja levando os ensinamentos obtidos na capital colombiana depois que o pedestre, as pessoas, passaram a ser o foco das políticas de trânsito. Por onde passa, Peñalosa repete pensatas definitivas sobre a convivência entre carros e humanos. O mantra, porém, está longe de ser assimilado. Algumas reflexões do especialista sobre a boa cidade:
"Calçadas são um direito do cidadão ".
"A política de transporte público em cidades como Nova York e Londres pensa em como reduzir o número de carros. Cidades como Bogotá, São Paulo ou Porto Alegre os secretários de Transporte sempre pensam em facilitar a circulação de carros, o que não dá certo".
"Tratar os engarrafamentos com vias maiores é como apagar fogo com gasolina".
"Em uma boa cidade, as pessoas estão do lado de fora, não em shoppings. Em uma boa cidade, não vamos de carro comprar pão e leite. Somos pedestres, necessitamos caminhar".
"Uma boa cidade não é aquela em que até os pobres andam de carro, mas aquela em que até os ricos usam transporte público. Cidades assim não são uma ilusão hippie. Elas já existem".
Em crônica de abril este cronista falava do começo das obras do Crema na BR (105 quilômetros entre Campestre da Serra e Nova Petrópolis). O contrato de dois anos da empreiteira com o governo federal prevê apenas restauração e manutenção do trecho. O contrato não prevê um metro de calçada, passarelas, viadutos.
Durante os próximos dois anos, portanto, a BR permanecerá exatamente como está: uma estrada perigosa e matadora ocupada com os automóveis.
Opinião
Gilberto Blume: A BR-116 seguirá matadora pelos próximos dois anos
De novo estamos às voltas com atropelamentos na rodovia
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