A cautela que sobra no PMDB de Sartori inexiste no PT de Lula.
Sartori empurra para a eternidade de semanas, às vezes de meses, o anúncio de decisões sobre seus passos na política. O comportamento do governador eleito repete a prática nacional do partido: não se precipitar, negociar, barganhar. A tática pode ser questionada, mas dá resultados, ao menos para o partido.
Lula está sempre atrasado.
As urnas mal foram fechadas e o PT já anunciou Lula candidato a presidente em 2018.
Precisava?
Não precisava.
Chega a ser surpreendente que Lula não tenha dado um chega pra lá em Dilma e assumido a candidatura em 2014. Dilma, está claro, jamais foi considerada uma petista legítima. Oriunda da extrema esquerda e, depois, do PDT de Brizola, em 2010 ela sucedeu Lula por absoluta falta de opção dentro do PT (entre os petistas que poderiam virar presidente praticamente todos estão na cadeia).
Se Dilma não tivesse vencido Aécio agora em outubro, carregaria sozinha toda a culpa pela derrota. O PT se livraria facilmente do ônus, sepultaria a era Dilma e miraria 2018. Das duas, uma: ou o PT de Lula não tem paciência ou não reconhece mesmo o governo Dilma.
A pressa de Lula e do PT em antecipar o debate de 2018 tem o poder de desviar a atenção do país de fatos bem mais relevantes e urgentes. Não é preciso listar aqui novamente os temas em que nem Lula e nem Dilma conseguiram avançar substancialmente, ainda.
Nas internas, a candidatura de Lula tem grande potencial de tirar o lustro das ações de Dilma pelos próximos quatro anos. Se alguma coisa der errado, Lula poderá dizer:
- Quando eu for presidente esse tipo de coisa não vai acontecer.
O principal aspecto da candidatura precipitada de Lula talvez seja a contradição (mais uma) do PT. O partido vive alardeando que defende um projeto político de desenvolvimento, jamais um projeto de poder. Ao lançar Lula 2018, contudo, o PT escanteia o discurso politicamente correto e assume publicamente, e de novo, que o que deseja mesmo é permanecer no poder.
Seria de muito bom tom que o Brasil deixasse Dilma governar.
Qual é a do PT, afinal?
Opinião
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