Enquanto o mundo vive a pior epidemia de ebola da história e o Brasil investiga o primeiro caso suspeito no Paraná, serviços de saúde de Caxias ainda se estruturam para lidar com uma eventual chegada da doença na Serra. Até o momento, nenhum paciente suspeito de contaminação foi identificado no Estado.
Em Caxias, a Secretaria Municipal da Saúde está adquirindo equipamentos de proteção para as equipes médicas, mais expostas ao risco epidêmico. Nas demais cidades da região, a estratégia será debatida em reunião marcada para o dia 23 de outubro, em Porto Alegre. O Hospital Conceição, em Porto Alegre, é a instituição referência no Rio Grande do Sul para tratar e receber pacientes com ebola.
A exemplo do que ocorre em todo o Brasil e outros países, a brecha é a falta de ações para acompanhar migrantes ilegais com origem em países africanos, o foco da doença. Convém lembrar que Espanha e Estados Unidos já têm registros de contaminação, o que sugere a possibilidade de moradores desses países também portarem o vírus.
Em Caxias do Sul, o monitoramento inicial depende da observação de leigos e de atendentes da rede. Voluntários do Centro de Atendimento ao Migrante (CAM) têm conversado com todos os migrantes africanos para identificar sintomas.
A orientação foi repassada pela Secretaria Municipal da Saúde a pedido da coordenadora do serviço, Maria do Carmo dos Santos Gonçalves. Levantamento mostra que duas a três pessoas chegam na cidade toda semana, vindas de países como Gana e África do Sul, onde não há epidemia. A exceção é Senegal, com registros localizados.
Os atendentes da CAM pedem aos migrantes se sentem sinais como início súbito de febre, fraqueza intensa, dores musculares, dor de cabeça ou dor de garganta. Nada se confirmou.
- Os migrantes daqui são de países sem registro de epidemia. Quando chegam, já estão há um mês circulando pelo país, tempo mais do que suficiente para a doença se manifestar - diz Maria do Carmo.
A doença se manifesta em até 21 dias após o contato com o vírus.
O caso suspeito no Paraná foi comunicado ao Ministério da Saúde na quinta-feira. O paciente de 47 anos é de Guiné, e estava internado em Cascavel. Nesta sexta-feira, o homem foi transferido para o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, que funciona dentro da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro (RJ). O instituto é referência nacional para casos de ebola.
O paciente chegou ao Brasil no dia 19 de setembro, desembarcando no aeroporto de Internacional Guarulhos. Ele manifestou a febre na quarta-feira, dia 8 de outubro. A doença ainda não está confirmada. No mundo, foram registrados 8.011 casos na Guiné, Libéria e Serra Leoa, com 3.857 mortes, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde. Nigéria, Senegal e Estados Unidos e Espanha apresentaram transmissões localizadas, com 21 pacientes com a doença e 8 mortes.
Dúvidas para lidar com pacientes
Em Caxias, as UBSs e o Postão 24 Horas estão em alerta para identificar casos suspeitos. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) recebeu a incumbência de transportar possíveis doentes para a Capital. Há uma ambulância exclusiva pra o traslado.
- Nota técnica divulgada pelo Ministério da Saúde não considera o Brasil como país infectado. Se detectarmos casos na cidade, a orientação é isolar o paciente e levá-lo para Porto Alegre - ressalta a secretária da Saúde de Caxias, Dilma Tessari.
Entretanto, ainda há dúvidas sobre qual a primeira ação diante da suspeita de ebola. A 5ª Coordenadoria Regional da Saúde (5ª CRS) agendou reunião com a Secretaria Estadual da Saúde e representantes da prefeitura de Caxias do Sul para o dia 23 de outubro. Conforme a coordenadora regional da vigilância epidemiológica, Ana Maria Rocha, serão estabelecidas algumas regras a partir do encontro.
- Participei de capacitação na semana passada e há protocolos a serem seguidos, se necessário. Já adotamos medidas semelhantes na epidemia da H1N1 (Gripe A) - lembra a coordenadora da Vigilância em Saúde, Maria Ignez Bertelli.
A coordenadora regional do Samu, Renata Carrazoni Fontes, explica que não haverá uma equipe específica para remoção de infectados, mas todos os funcionários receberam orientação de como se precaver durante o atendimento. O Samu solicitou 120 kits que incluem macacão sintético, máscara, luvas, escudo facial e aventais. Parte do material já está em Caxias, e o restante ainda será comprado.
Risco global
Caxias do Sul reserva ambulância e encomenda equipamentos para atender a casos de ebola
Medida é preventiva pois não há suspeitas de que a doença chegou na cidade ou no Estado
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