A Semana Farroupilha 2014 está se notabilizando pelo xeque-mate contra si mesma decretado por ninguém menos que os defensores e cultuadores do movimento tradicionalista. É quase (ou mais que) uma antropofagia cultural às avessas daquela teorizada e praticada pelo Movimento Modernista quase 100 anos atrás.
Se nos idos de 1920 os produtores de cultura e pensadores defendiam e praticavam a apropriação e transformação de todas as vertentes que brotavam Brasil e mundo afora, hoje e aqui no Rio Grande do Sul as porteiras são cadeadas.
Ninguém mais entra, ninguém mais sai.
Se você pensa e vive diferente dos dogmas tradicionalistas, você é excluído. Não deixa de ser aliviador saber que muitos de nós somos personas non grata no rancho. Pelo menos o jogo, que sempre fora armado com o pseudo-vencedor pré-conhecido, agora está mais claro para quem não sente conforto algum enfiado dentro de uma bombacha, de um vestidão.
Demorou para que esse tradicionalismo armado lá nos 1940 e que tem por base um enredo sobre hábitos e costumes absolutamente descolados do verdadeiro passado do povo gaúcho acusasse as próprias incoerências.
A igualdade tão brutalmente buscada lá nos 1800 está sendo vergonhosamente enxovalhada nos anos 2000. Jamais o Rio Grande foi tão negativamente exibido Brasil afora como tem sido exibido agora.
Que gaúcho é esse que condena o diferente?
Mais, quem ele acha que é para determinar condutas?
Sem dúvida, e seria bobagem negar, a Semana Farroupilha é momento importante de lazer, de comércio, de confraternização, de entretenimento.
Só.
Não transformemos a Semana Farroupilha em mais uma religião que defende dogmas e reivindica verdades.
Opinião
Gilberto Blume: Que gaúcho é esse que condena o diferente?
GZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: