Peço vênia ao pós-formado em espiritualidade Frei Jaime Bettega para me arriscar na seara que ele domina como poucos.
Diferentemente do frei, a espiritualidade que pretendo abordar é terrena. Melhor dizendo, tem origens, causas e consequências humanas, logo terrenas, logo independe de forças sobrenaturais.
Pode alguém desejar a infelicidade de outro alguém?
Pode, sabemos.
Também sabemos que esse desejo se manifesta com mais frequência do que imaginamos.
Sequer falo dos maus, dos criminosos, dos tortos de caráter, de quem arranha espelhos porque odeia o mundo.
Falo de pessoas comuns, gente ficha limpa, pais, mães e filhos do bem, amigos fieis. Quando gente desse calibre se esforça para trazer infelicidade a outras pessoas é que os butiás todos me caem dos bolsos, pasmo quedado, fico de cara, não compreendo:
- Por que alguém gasta energia tentando esculhambar a vida de outra pessoa?
A intransigência e a intolerância ao diferente, estranhamente tão em alta nesse planeta cada vez menor e mais paroquial, são poderosas ferramentas que produzem infelicidade.
O atentado contra o CTG de Livramento, o estúpido tratamento que brancos dispensam a pretos, o racismo no esporte são atos geralmente assinados por gente acima de qualquer suspeita até que. Até que resolvem manifestar publicamente o que vai no âmago de suas existências.
É patético.
O preconceito que externamos assim tão agressivamente não passa de um golpe abaixo da cintura para impor nossas verdades e nossas crenças, como se nossas vidas pudessem ter o rumo alterado caso consigamos fincar bandeiras de valor. A vida dos intolerantes preconceituosos não será um milímetro alterada com ações criminosas e anti-humanas. Ou melhor, esses terão a vida alterada para pior, mas poucos perceberão o próprio recuo moral.
A virulência dos intolerantes, porém, tem sim o poder de alterar profundamente a vida de quem perseguem.
- Por que alguém gasta energia tentando infelicitar a vida de outra pessoa?
Frei Jaime diria que falta Deus no coração e na mente de quem batalha pela infelicidade alheia.
Pode ser.
Me permito acrescentar que falta Humanidade, também em maiúsculo.
Opinião
Gilberto Blume: Em busca da infelicidade alheia
Peço vênia ao pós-formado em espiritualidade Frei Jaime Bettega para me arriscar na seara que ele domina como poucos
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