Conflitos étnicos, perseguições religiosas e violentas disputas por terras produtivas entre famílias são motivos alegados pelos 300 ganeses que chegaram à cidades nas últimas semanas. Na entrevista que concedem para o preenchimento do formulário do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), essencial para o encaminhamento de pedido de refúgio no país, esses estrangeiros narram histórias muito semelhantes, que soam tão orquestradas como a sua entrada no Brasil.
Todos têm relatos trágicos para contar, mas todos entraram no Brasil com status de turista e visto temporário válido por 90 dias, concedido pela embaixada brasileira em Acra, capital de Gana, em função da Copa do Mundo. Com o visto em mãos, encaminham pedido de refúgio junto à Polícia Federal (PF) e com ele podem permanecer até que cada situação seja analisada pelo Conare. Nenhum deles assistiu sequer a um jogo da Copa que se encerra neste domingo. Essa contradição chamou a atenção do prefeito de Caxias, Alceu Barbosa Velho, que além de alegar falta de estrutura para receber os migrantes, foi pedir ajuda à Brasília. Ligou para o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e expôs a situação.
- Ele ficou impressionado com a situação, disse desconhecê-la. Em um primeiro momento, nos acenou com uma ajuda de custo para poder oferecer melhores condições aos migrantes, mas ainda não temos valores nem prazos. Também anunciou a possibilidade de o Ministério enviar uma comissão a Caxias para analisar quem de fato está em situação de refúgio. Humanitariamente, estamos fazendo o que nos é possível, oferecendo doações de comida e roupa. Estamos muito atentos também à questão sanitária, de saúde.
Mahmoud Mohammed, 34 anos, Mohammed Abulai, 36, e Razak Mustapha, 37, viajaram juntos ao Brasil. Fizeram a mesma rota de outros 2 mil conterrâneos. De Acra, capital de Gana, partiram para São Paulo, e de lá para Criciúma (SC). Chegaram a Caxias sabendo da facilidade em conseguir o protocolo de refúgio. Vão permanecer no Brasil pelo menos até que seus casos sejam analisados. Desconfiados diante de uma solicitação de entrevista à reportagem, falaram pouco e não quiseram ser fotografados.
- Temos medo de que nos descubram e nos persigam, podem ver pela internet - argumenta Mahmoud.
Ele e os dois amigos querem permanecer no Brasil porque em Gana sofreram ameças de muçulmanos, sua própria religião.
- Nos condenaram por termos ajudado uma pessoa cristã. Há muitos grupos inimigos, não podemos ajudar uns aos outros. Não concordamos com isso - diz Mohammed.
Imigração
Ganeses em Caxias do Sul se dizem perseguidos no país de origem
Entre os relatos estão casos de perseguições religiosas e de disputas por terras
GZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: