Após 10 anos de existência, o programa Bolsa-Família continua o principal complemento de renda para 23.864 famílias pobres e extremamente pobres nos 61 municípios da região Nordeste que integram a região de cobertura do Pioneiro.
O número representa um crescimento de 49% em relação ao total de beneficiários atendidos em 2004 (16.016), o primeiro ano completo da ação do governo federal.
Nesse período, porém, mais da metade dos municípios da região viu sua dependência do programa diminuir. Associada à inclusão das pessoas no mercado de trabalho, a saída do cadastro é um dos indicadores de melhoria da qualidade de vida da população.
Um levantamento feito pelo Pioneiro com base em dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome concluiu que 33 cidades registraram queda no número de domicílios dependentes da ação de transferência de renda em relação aos dados de 2004. Juntas, naquele ano, elas tinham 4.336 famílias cadastradas frente a 3.385 em 2013 _ diminuição de 21,02%.
Nesse grupo, a cidade que mais teve famílias desvinculadas ao programa foi Alto Feliz, que contabilizava 22 famílias cadastradas em 2004 e, em setembro deste ano, tinha apenas quatro, uma redução de 81,81%.
Entre as 28 cidades onde a dependência do Bolsa-Família cresceu, oito tiveram aumentos superiores a 110%. Nesse universo, destacam-se os números de cidades de porte médio na região, como Bom Jesus (114%), Canela (111,4%) e Veranópolis (190%).
Caxias do Sul acompanhou a tendência de alta. De 4.883 beneficiários cadastrados em 2004, saltou para 8.059 em setembro até ano. Levando se em conta a população da cidade, há 10 anos, 1,25% da população dependia do programa de transferência de renda. Hoje, 1,85% precisa dele para complementar o orçamento doméstico.
O número, porém, já foi bem maior: em 2009, por exemplo, o Bolsa atendia a 9.373 pessoas em Caxias do Sul, cuja população era calculada em 428.111 pessoas (2,19% recebiam o benefício).
Entre as famílias que se desligaram do programa por terem percebido aumento na renda está a de Zeneide Machado dos Santos, 42 anos. Nascida em Lages (SC) e morando em Caxias do Sul desde criança, quando migrou com a mãe e sete irmãos em busca de um futuro melhor, ela já trabalhou em várias funções: cuidou de crianças, foi empregada doméstica, trabalhou no comércio, em malharias e passou por uma metalúrgica.
Há quatro anos, quando o filho Igor já estava com 11, a vida de Zeneide virou de cabeça para baixo: ela adotou Gustavo, que nasceu prematuro e com vários problemas de saúde. O salário que ela e o marido, Vanderlei dos Reis, 47, que é pintor, ganhavam tornou-se pequeno para sustentar a família e Zeneide, aconselhada por assistentes sociais do município, tornou-se beneficiária do Bolsa-Família.
- Enfrentamos tempos difíceis, em que às vezes não havia o que oferecer às crianças para comer. Graças a Deus, esse dinheiro ajudou muito e hoje vivemos com dignidade. Não tenho luxo, mas sou feliz - conta Zeneide.
Em outubro de 2012, Zeneide passou a trabalhar em uma indústria no bairro Bela Vista. Recebendo cerca de R$ 700 por mês, ela decidiu pedir o desligamento do Bolsa-Família em setembro deste ano.
- Acho que tem gente que necessita mais do que nós nesse momento. Foi muito bom, me ajudou muito, mas agora acho que não precisamos mais - conta Zeneide, que foi incentivada pelo filho Igor a desligar-se do programa.
Em busca de remuneração melhor, Zeneide deixou a indústria há poucas semanas e conseguiu uma vaga como doméstica. Vai ganhar cerca de R$ 400 a mais. Com o dinheiro extra, pretende montar um pequeno salão de beleza em casa, para trabalhar como manicure aos finais de semana.
- Não tenho vergonha de volta a trabalhar em casa de família. O que importa é que é um emprego honesto, que vou fazer com muita dedicação. Meu objetivo é seguir em frente, subir um degrau de cada vez e conquistar tudo o que sonhei para mim e para os meus filhos - garante.
Confira no Pioneiro desta quinta-feira uma lista com os números de todos os 61 municípios e análises de especialistas sobre o programa na região.
Contra a pobreza
Nordeste gaúcho tem 23,4 mil famílias dependentes do Bolsa-Família, 49% a mais do que há 10 anos, quando programa se iniciou
Em Caxias do Sul, o maior município da Serra, 1,85% da população precisa do recurso federal para complementar o orçamento doméstico
GZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: