Oficialmente, Caxias do Sul tem 62 pessoas em situação de rua no Cadastro Único do governo federal. A quantidade, obviamente, é maior. Muitos desses moradores poderiam receber o Bolsa Família, o que garantiria ao menos R$ 70 mensais.
Apesar de parecer pouco, a quantia é suficiente para garantir ao menos um almoço diário em um dos restaurantes populares da cidade. Como esses homens e mulheres desconhecem o benefício, a maioria sobrevive de esmolas ou improvisa catando comida no lixo.
O quadrilátero formado pelas ruas Ernesto Alves, Marquês do Herval, Vinte de Setembro e Borges de Medeiros é um recorte dessa indigência no coração da rica Caxias. A qualquer hora, é possível topar com gente rondando esquinas ou simplesmente parada na calçada à espera de esmolas para sustentar vícios. Quando a fome aperta e a ajuda não vem, eles não se importam de revirar os detritos em busca de um pedaço de pão.
Valdir Drum, 37 anos, é um desses famintos. Está circulando pelas ruas de Caxias do Sul há pouco mais de uma semana. Natural de Nova Petrópolis, o homem mora na cidade há 22 anos. Na tarde de terça-feira, ele rasgou um saco recheado com carne, salada e arroz. Evidentemente, os restos eram sobras mastigadas dos pratos de algum restaurante.
Ele não teve receio de mergulhar a mão nos detritos e retirar dois pedaços de bife à milanesa e um ovo de codorna em meio a moscas e ao mau cheiro. Uma jovem viu a cena e opinou à reportagem:
- Cada um escolhe o que quer para si.
Drum não ouviu o comentário e terminou rapidamente a refeição.
- Até tenho medo de pegar doenças, mas nunca peguei. Eu não como qualquer coisa. Seleciono a comida que está fechadinha dentro de saco - conta.
Quem está na rua dificilmente consegue a reabilitação se não tiver força de vontade. A suposta liberdade e ausência de regras são como imãs. Essa ligação fica ainda mais forte se houver gente disposta a manter esses homens e mulheres na rua com esmolas.
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Miséria sem fim
Moradores de rua que se alimentam do lixo são cada vez mais comuns em Caxias do Sul
Quadra no entorno de dois hipermercados se tornaram ponto de encontro desses grupos
Adriano Duarte
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