O 2 de setembro de 2023 foi o dia da libertação grená. Foram longos e intermináveis capítulos de sofrimentos na Série D do Campeonato Brasileiro. Alguns com roteiros de crueldade. No entanto, o retorno à Terceira Divisão nacional no Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa, premiou os apaixonados pelo Caxias.
A comemoração não foi somente nas ruas de Caxias do Sul, com os grenás orgulhosos com uma façanha histórica. No Rio de Janeiro, a festa foi grande. Os quase 200 torcedores do Caxias que estiveram no estádio Luso-Brasileiro presenciaram um capítulo marcante e vitorioso. Após o gol do artilheiro Eron e o apito final do árbitro, lágrimas, abraços, sorrisos e gritos para libertar o povo grená rumo a voos maiores.
Inclusive, a direção não poupou esforços para conseguir a vaga. Além da logística dos atletas com investimento para trazer mais pessoas do staff e ficar um período com mais antecedência no palco do jogo, parte da direção chegou em um jato particular pertencente a um integrante do grupo gestor.
Os jogadores comemoraram muito dentro de campo com os torcedores, que vieram de todas as formas possíveis. Inclusive, um deles, chamado Gregori Alves fez uma rifa para bancar os custos da viagem de ônibus.
— Eu represento a torcida e amor grená. Nós somos Caxias e onde ele for nós vamos estar. Obrigado a quem apoiou a rifa. Agora é juntar o dinheiro pra voltar — esbravejou de felicidade o torcedor.
Depois no vestiário mais festa. Na porta a presença de três seguranças particulares. Lá dentro, os atletas festejaram regados com muita cerveja, músicas e gritos de cantos da torcida grená. A recompensa de uma batalha vencida a suor e sangue como, por exemplo, o zagueiro Fernando que saiu com o nariz inchado e sangrando. Demonstração de luta e comprometimento ao sangue grená.
Os funcionários mais antigos e que viveram os episódios tristes do passado foram às lágrimas. Vitor Soccol, assessor de imprensa, rezou antes do pênalti convertido por Eron. Ederson Machado, o Chucky, mordomo grená, em um gesto solitário, após a conquista, se deitou no marca do pênalti onde o Caxias fez o gol e abriu os braços na grama como se fosse o Cristo Redentor. Olhando para o céu agradeceu por aquele momento único.
— Eu me lembro do vestiário. Abracei todo mundo e chorei, agradeci. É inacreditável. O Caxias nunca mais vai descer. Vamos trabalhar para isso. Nós sempre nos dedicamos ao Caxias. Um dia dá certo e esse dia chegou e vai melhorar mais ainda — comentou Chucky.
A comemoração no estádio terminou com o técnico Gerson Gusmão cantando o hino rio-grandense na transmissão do Futebol da Gaúcha na Rádio Atlântida Serra: "Sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra". Depois, os jogadores, comissão técnica, direção e torcedores foram para uma Churrascaria especializada em oferecer o melhor churrasco Gaúcho no Rio de Janeiro e com uma bela vista para o Pão de Açúcar.
O bicho extra
A premiação para os profissionais que participaram desta conquista foi acordada com o elenco no valor de R$ 700 mil pagos pelo Caxias e mais R$ 100 mil pela Federação Gaúcha de Futebol (FGF). Em caso de título, outro valor será pago ao elenco como forma de bonificação.
— Foi definido antes de começar o campeonato. Tivemos reuniões com os atletas e definimos todos os bichos. Agora, no final, a gente sempre dá um gás a mais pra dar mais um incentivo. É uma cota boa. Quem paga é bastante caro. O Caxias fez tudo que pôde. Os atletas podem ajudar as famílias com esse valor, a maioria é de família humilde e precisam — disse o presidente Mario Werlang.
Outro bastidor da conquista grená foi um detalhe mínimo, mas muito representativo. Cada jogador do Caxias, que esteve no campo e no banco jogou com uma camisa que tinha o nome de um companheiro que não foi relacionado para o confronto. André Lucas, Guilherme Nunes, Erik, Lucão, Yago, Oya, Diego Rosa, Minho e Vini Spaniol foram os jogadores que ficaram em Caxias, mas entraram em campo com seu nome no peito da camisa dos colegas e também estão entre os bravos honradores da história.