A reconstrução do Juventude não começou pela reformulação do elenco. Antes mesmo de encerrar a temporada ruim de 2022, o clube anunciava uma novidade fora das quatro linhas. Após quatro anos sob o comando de Osvaldo Pioner, o departamento de futebol do Verdão passou a ter um comitê gestor responsável pelas definições da pasta. Almir Adami, Jones Biglia e Luis Carlos Bianchi são os três componentes como diretores.
Em entrevista ao Show dos Esportes, na Rádio Gaúcha Serra, dois dos integrantes do comitê, Adami e Bianchi, falaram sobre a formação de elenco para 2023, a avaliação do começo de trabalho de Celso Roth e a expectativa pela disputa do Gauchão. O Ju estreia no sábado (21), às 19h, contra o Inter, no Beira-Rio.
Almir Adami começou na diretoria do Juventude em 2016, como diretor de administração e finanças na gestão do ex-presidente Roberto Tonietto, que se licenciou do cargo no final de 2018. O dirigente tornou-se vice-presidente administrativo e financeiro em 2017 e assim permaneceu até o final de 2021. Adami viveu de perto os momentos mais marcantes do clube nos últimos anos, os descensos e os acessos nacionais, especialmente. Por isso, uma das primeiras atitudes foi formar o comitê gestor que contratou, inicialmente o diretor executivo Júnior Chávare.
— Agora toda avaliação de contratações passa pelo comitê. Por isso, antes de contratar o Celso Roth, trouxemos o executivo Júnior Chávare. Entrevistamos vários profissionais e chegamos no Chávare, porque precisávamos de uma pessoa que tivesse conhecimento de base, que pudesse trabalhar com orçamento menor e com abertura em clubes grandes — revelou Adami.
Luis Carlos Bianchi é conselheiro desde 2009 e ingressou na diretoria no final de 2014 como diretor de patrimônio, por convite da presidência. E assim permaneceu até o final de 2015. No ano seguinte, foi eleito vice-presidente de patrimônio e ficou no cargo até o final da temporada de 2021. Em 2022, recebeu o convite do vice-presidente eleito Rafael Bellei para ser diretor de patrimônio. Assim como Adami, Bianchi viu de perto todas as emoções vivenciadas pelo clube nos últimos anos.
— Ter três pessoas no comitê é uma quebra de paradigma. Muitos nos questionam, duvidam se dará certo, mas nosso comitê vai além das três pessoas. O Júnior Chávare, o Roth e o presidente participam dos processos de reformulação e contratação — admite
Confira os principais pontos da entrevista
Escolha por Celso Roth
— Para treinador, elencamos cinco nomes. A partir da chegada do Chávare, conversamos e chegamos no Roth. Perfil necessário pela situação que enfrentamos em 2022. O Celso tem qualidades interessantes. Ele é gestor, consegue trabalhar a cabeça dos atletas. Ele consegue trazer pra atualidade tudo que viveu no futebol. O importante é que está comprometido e querendo. O Roth me disse que sentiu muita falta da adrenalina no futebol. Ele não conseguiu parar por isso — revela Adami.
Relação com o treinador
— Tenho relação antiga com o Roth. Já tivemos longas conversas sobre futebol. A contratação dele veio através de muito diálogo. Ele queria saber o que a gente pensava sobre futebol, nos perguntou se seguiríamos trazendo um monte de jogadores experientes aqui que pegariam a grana do clube e depois iam embora, ou se a gente pensava em criar a base pro futuro do clube. Ele ouviu de nós que, naturalmente pela questão orçamentária, deveríamos ir para esse caminho. Então casou. No dia a dia ele é um excelente gestor de grupo, conhece o processo, não vai queimar nenhum jovem, não vai colocar ninguém na arena pra ser queimado e não vai deixar de usar alguém da base pra pôr um atleta mais experiente. Vai usar os que estão melhores no momento. O Celso sabe a estrutura que está pegando, sempre trabalhou em outro patamar, mas não nos cobra aquilo que não podemos dar. Ele está muito satisfeito com tudo que o clube deu a ele. A tendência é a gente fazer um bom trabalho — aponta Bianchi.
Formação de elenco
— A janela de transferências nacionais termina no início de abril, com os campeonato regionais correndo. Fica dificil avaliar atletas, por isso a quantidade que trouxemos agora é neste sentido. Temos também que dar oportunidade para jogadores da base. Alguns já estão participando de jogos-treinos e indo bem. Outros vão ser observados no Gauchão — aponta Adami.
— Quando caímos da B pra C e agora da A pra B, os processos são semelhantes. Guardadas as proporções financeiras, quando o clube cai pra B ainda tem um parcela de dinheiro. Quando caímos pra C, não havia verba nenhuma. A formação de grupo é muito semelhante. Quando você tem um rebaixamento, a reformulação do grupo tende a ser muito grande. O trabalho de formação é semelhante — admite Bianchi.
Primeiros treinos de Roth
— Tem coisas que não vi outros técnicos fazerem. O Roth tem a dosagem certa da cobrança, por vezes mais forte e pessoal, dentro do grupo. E isso não causa mal estar, ele tem o respeito dos atletas. O trabalho no campo não tem nada de defasado. Ele até me disse que estava fora do mercado, mas não está desatualizado. Estamos num processo de formação de grupo e de time. Temos percebido uma evolução gradual nos treinos. Desde o primeiro, com o Sindicato dos Atletas, até o jogo com o São José. É um processo natural. Um grupo inteiro, novo e com muitos jovens que a comissão técnica ainda não tinha trabalhado. O Celso vem dividindo o atleta por função, sem definir uma equipe titular, pra eles mostrarem o que são — afirma Bianchi.
Os sete centroavantes sondados
— Trazer atletas sem custo possibilitou a gente investir mais em atletas de renome, mas a dificuldade foi encontrar o 9 e 10. Já chegamos a estar fechados com sete centroavantes, brasileiros e da América Latina, mas a dificuldade financeira em oferecer um salário atraente é muito grande. Tivemos concorrência com clubes da série A e da B, que estão fazendo loucuras, dobrando o valor dos salários que oferecíamos. A concorrência é desleaal, mas cumprimos à risca o orçamento. Tínhamos uma receita de R$ 80 milhões em 2022 e este ano é de R$ 20 milhões. E com isso, a limitação para investir no futebol é grande. A gente vai partir de níveis salarias parecidos com 2020 quando nós subimos, com a ideia de acrescentar alguma coisa ali adiante — destaca Adami.
Expectativa pelo camisa 9
— Trouxemos um camisa 10 (Fernando Boldrin) que desde a saída do Renato Cajá não tínhamos. Pelas amostras nos treinamentos, acredito que a gente acertou. Já está na cidade o atacante David da Hora, e ele vai assinar contrato. Agora estamos em negociação com um centroavante. Subimos um pouco a média salarial e estamos em negociações avançadas, não posso falar o nome porque ele está em outro clube. Ele tem perfil experiente. Temos bons jogadores, porém jovens do meio pra frente, precisamos de alguém mais experiente não só pro Gauchão, mas pro Brasileiro também. Além de perder jogadores apalavrados que não vieram por propostas melhores, acabamos perdendo outros negócios que estavam como plano B. Mas a gente vai conseguir ter um time bem competitivo.
Peso do último Gauchão
— Desde 2016 só tivemos dois Gauchões bons. Em 2016, quando fomos vices, e outro antes da pandemia, quando ficamos em terceiro lugar. E nos últimos, a gente tem se arrastado nos resultados por algumas situações que aconteceram e que no final nos deixaram numa linha complicada. Mas a intenção era ir bem. O Juventude, estando na A ou na B, fica com o tempo de montagem de elenco reduzido. A dupla Gre-Nal tem "n" jogadores e podiam colocar um time sub-23 nas primeiras rodadas. Nós precisamos apagar essa imagem e temos intenções interessantes para almejar as primeiras colocações. Nossa torcida precisa disso — aponta Adami.
Estreia contra o Inter
— A semana vai ser bem intensa, no sentido de ajustar o time pro jogo de estreia contra o Inter. Ele já tem uma espinha dorsal grande. No último jogo, o Roth fez algumas experiências, inclusive de esquema, com três zagueiros. Não sei se ele vai conseguir repetir pelas baixas de alguns jogadores na função. Talvez ele opte pelo tradicional 4-4-2. Mas eu diria que 70 ou 80% do time titular que vai jogar contra o Inter já esteja na cabeça dele. Ele tem algumas dúvidas que vai tirar essa semana — afirma Bianchi.