Primeira ginasta a conquistar uma medalha em mundiais no individual geral, no longínquo 2007, e a mais experiente da atual seleção brasileira, Jade Barbosa é uma das referências da modalidade. Por conta disso, tem muitas vivências para compartilhar.
Nesta terça-feira (13), ela esteve em Caxias do Sul, no Recreio da Juventude, ministrando uma clínica de ginástica artística para jovens atletas. Entre a teoria e a prática, Jade falou sobre o apoio familiar, a perda da mãe Janaína, quando tinha apenas nove anos, e os desafios enfrentados ao deixar o Rio de Janeiro, sua cidade natal, para treinar com a seleção em Curitiba.
Depois, ainda comentou sobre as relações com as companheiras, os sonhos conquistados e a felicidade em ver a modalidade se popularizando no Brasil, com o brilho mais recente de Flávia Saraiva e Rebeca Andrade.
– É engraçado, porque quando você entra em uma modalidade acredita que suas realizações estão relacionadas com medalhas, conquistas em campeonatos. Ao longo da minha carreira, descobri que inúmeras coisas me realizavam. Uma delas é influenciar positivamente novas gerações e transformar o esporte em algo mais popular. Quando tenho oportunidade de estar com a nova geração, dar uma clínica, proporcionar conhecimento, fico muito realizada – comentou a ginasta de 31 anos.
Além da conversa com as atletas, Jade também desenvolveu atividades práticas com as meninas no ginásio e, durante à noite, participou da entrega do Mérito Esportivo, do Recreio da Juventude, premiação que valoriza os destaques do clube em diferentes modalidades durante a temporada.
Antes da atividade da tarde, Jade atendeu o Pioneiro e falou sobre momentos marcantes dos seus mais de 25 anos na ginástica artística:
VISIBILIDADE
– Logo quando comecei, era apaixonada pelo esporte. A modalidade exige muito sacrifício. E fazer parte da história é mágico, nunca imaginei influenciar tantas pessoas. De certa forma, consegui alcançar o objetivo de ajudar a tornar o esporte mais popular. É uma conquista enorme. Não só quando chego em uma cidade e vejo que tem um ginásio sensacional como aqui (Recreio da Juventude), que certamente podem sair meninas com bastante nível, mas como quando estou no Rio de Janeiro, no Centro de Ginástica, e tem vários campeões olímpicos.
CICLOS DIFERENTES
– Dei muita sorte por ter espelhos incríveis na ginástica, a Daiane (dos Santos) e a Daniele (Hypolito). Principalmente a Daniele, que treinava no Flamengo, onde comecei. Depois, quando fui para a seleção, tive a chance de treinar com as pessoas que idolatrava. Sai da ginasta mais jovem para agora ser a mais experiente. É muito bom ver que o caminho que eu trilhei, de ver as meninas fazendo, adquirindo experiência, e hoje poder proporcionar isso para novas gerações. É um caminho até solitário, porque muitas acabam saindo.
EM OUTRA REALIDADE
– Comecei muito com o “paitrocínio”. Era muito diferente. A gente gostava muito, mas não tinha collant, não tinha viagem paga. Fomos conquistando. Íamos para outra cidade se apresentar só para angariar dinheiro para viajar para um Brasileiro. Vim de uma geração que batalhou muito para ter o direito de poder competir. Para estar em uma competição e depois ganhar uma medalha. Hoje a ginástica tomou uma proporção muito legal.
LESÕES E DIFICULDADES
– Nesse meio do caminho aconteceram muitas lesões. Quando você faz um esporte de alto rendimento, principalmente no nível que hoje se encontra no Brasil, existem os riscos normais, que fazem parte. A ginástica hoje é um trabalho e da qual tenho muito prazer. Me sinto realizada. Hoje não está mais só ligado a conquistas, mas a quem conseguimos alcançar, nas crianças. É maior que a medalha na Olimpíada. É sobre popularizar um esporte que muda vidas.
ESTRUTURA DE TRABALHO
– Sempre foi o objetivo, não viver de talentos únicos. Quando você populariza um esporte, tem mais crianças participando. Depois, o interesse de se ter uma escola nacional, uma linha de trabalho. Muitos clubes hoje fazem ginástica em alto rendimento, o que não existia quando eu era pequena. Quando você tem uma equipe forte mostra que o trabalho no país é bem feito. Hoje temos chances de medalha por equipe em uma Olimpíada. Quando a gente imaginou? Quantos anos foram necessários? Um trabalho árduo, de muitas gerações. Não só do atleta, mas dos pais, das comissões técnicas, das equipes multidisciplinares. É muito legal hoje, com 25 anos de ginástica, quanta coisa se pôde proporcionar para essas novas gerações.
AVALIAÇÃO DA CARREIRA
– Durante a carreira acontecem muitas coisas boas e ruins. Por vezes, pode parecer uma frustração, mas não, isso fez parte do caminho até aqui. Se hoje consigo ter maturidade par avaliar, é porque todas as coisas me prepararam para isso. Por ter vivenciado essa carga, tem coisas que não quero que as próximas gerações passem. Luto também para que tenham oportunidades melhores. Quando você fala: “não foi para uma Olimpíada”. Isso faz parte da vida do atleta. Tem que estar pronto. Isso que torna os esportes tão especiais.
PLANOS PARA PARIS
– Tenho muita vontade de estar em Paris 2024 com a equipe completa, coisa que a gente não conseguiu em Tóquio (Jogos Olímpicos em 2021). Sinto que essa equipe tem muito a doar. Meu sonho seria conquistar esse resultado positivo por equipe, em um Mundial ou em uma Olimpíada, para mostrar como a gente, a nossa seleção melhorou. Acho que é uma das melhores gerações que o Brasil já teve. Mas, é claro, depende de muito trabalho.