Diferentemente do Juventude, que ameniza as maiores crises financeiras com a venda de talentos das categorias de base, o Caxias não consegue tirar o pé da lama porque abdicou desde 2013 do projeto profissional de captação e desenvolvimento de jogadores. Enquanto o rival negociou nesse período revelações como Alex Telles, Bressan, Ramiro e, por último, Airton e Alan Schons, o clube grená vive de um modelo atual de terceirização que não revela atletas.
Últimos expoentes da base do Caxias, Edenílson e Pedro Henrique atuam no futebol europeu
Os últimos resquícios do projeto-modelo montado em 2009/2010 e encerrado em 2012 são dois grandes destaques na Europa, o volante Edenílson (ex-Genoa e de volta à Udinese-ITA) e o atacante Pedro Henrique (Rennes-FRA), e alguns nomes espalhados pelo futebol brasileiro, como os meias Murilo (Botafogo) e Wangler (Oeste), o volante Gustavo Barreto (Criciúma) e o zagueiro Tiago Pagnussat (Atlético-MG). Até o final do ano, a ideia é definir o que pôr em prática a partir de 2016.
- A gente criou uma equipe de trabalho para nos trazer ideias e soluções para a base. Essa equipe está sendo liderada pelo Lairton Zandonai, que coordena hoje a base do Caxias. A gente sabe que essa base de hoje não é a ideal, não funciona de forma profissional. Para o ano que vem, temos que definir uma linha a seguir: fazer a terceirização com uma empresa especializada, tocar um projeto com recursos do próprio clube ou manter como está - revela Ernani Heberle, um dos vice-presidentes do Caxias.
Depois do fechamento da base por falta de recursos, já que o clube não tinha como investir cerca de R$ 200 mil mensais para sustentar jovens atletas vindos de fora de Caxias do Sul, a direção abriu as portas para Lairton Zandonai praticamente transferir sua escolinha de futebol para o Estádio Centenário. Com as mensalidades da garotada, é possível manter equipes até o sub-17. São elas que representam o Caxias em competições oficiais. Porém, não é um modelo para revelar talentos, o que o Caxias estuda para mudar em 2016.
- Nosso projeto principal para 2016 é criar a categoria sub-19 para preencher a lacuna que está faltando até o profissional. A gente quer melhorar, mas com os pés no chão. O Caxias não tem condições financeiras para adotar o modelo antigo de base. Trabalhamos hoje com a cobrança de mensalidades dos jogadores. Ao invés de empresários, quem paga são os pais dos meninos. Mas isso não quer dizer que não podemos revelar jogadores. A base do sub-17 é boa e pode render frutos em dois anos - afirma Zandonai.
A empresa Faucon, que coordena a categoria de base do Veranópolis, apresentou recentemente um projeto para o Conselho Deliberativo do Caxias, mas não houve aprovação:
- Fui fazer uma explanação e dizer que deveriam criar uma base forte no Caxias novamente. No Veranópolis, o clube nos dá alojamento e disponibiliza ônibus para deslocamentos. Não sei o que o Caxias quer de verdade. Acho que eles querem que alguém pague e eles mandem - conta Dagoberto Antônio Paim de Almeida, um dos sócios da Faucon.
- O Caxias não pode ser barriga de aluguel - contesta Lairton Zandonai.
Os especialistas dizem que categoria de base é investimento, e não despesa. Em 2009 e 2010, com iniciativa do presidente Osvaldo Voges, o Caxias retomou o modelo tradicional de gestão das categorias de base, como ocorre nos grandes clubes do Brasil, e revelou diversos jogadores. O coordenador do projeto era Luciano de Oliveira Elias, o Pavão, indicado pelo técnico Julinho Camargo e pelo diretor de futebol Julio Soster.
- Naquela época, olhamos uns 500 jogadores e captamos para a base uns 80. Para o Caxias retomar aquilo a partir do que tem agora, teria de fazer três coisas básicas: implementar a categoria de juniores para dar sequência ao juvenil; reimplantar o departamento de captação de atletas com bons olheiros para criar uma rede nacional de fornecedores de bons garotos, além de estar atento aos jogadores liberados por clubes de Séries A e B; e estabelecer uma boa relação com o time profissional para propiciar a ascensão das revelações - ensina Pavão, formado pela Sociedade Brasileira de Coaching, graduado em Educação Física pela UFRGS, pós-graduado em Futebol pela Ulbra e ex-gerente da base do Caxias e dos departamentos Amador e Profissional da Federação Gaúcha de Futebol.
Com o modelo reformulado em 2009 e 2010, o Caxias colocou vários atletas no time de cima e faturou alguns milhões com a venda de jogadores. No modelo atual, só tem um atleta no profissional: o centroavante Brandão, que trabalhou três anos com Lairton Zandonai.
No Centenário
Caxias começa a debater a importância das categorias de base para 2016
Direção avalia três alternativas: terceirizar, retomar o modelo de 2009/2010 ou manter como está
Adão Júnior
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