Campeão da Série B em 1994, do Gauchão de 1998 e da Copa do Brasil de 1999. Os maiores títulos do Juventude em 101 anos de vida - aliados às 13 participações consecutivas na Série A do Brasileirão e a uma disputa de Libertadores em 2000 - são intocáveis e eternos. Só que o prestígio do clube no cenário nacional não é mais o mesmo desde 2007.
>> INFOGRÁFICO: confira o histórico negativo do Juventude de 2007 a 2014
De lá para cá, foram três rebaixamentos sistemáticos, um humilhante 8 a 1 para o Inter, 21 contratações de técnicos em oito temporadas, dezenas de jogadores improdutivos e sete times marcados pelo fracasso. Quais as lições que o Ju aprendeu no subsolo do futebol brasileiro? A resposta sugere análises e pontos de vistas diferentes entre dirigentes, atletas e profissionais da imprensa. Além da crise financeira devido ao fim da parceria com a Parmalat, o motivo mais citado é a questão técnica. Falta de convicção em treinadores, contratações equivocadas de jogadores contribuíram muito para os insucessos.
- Faltou planejamento. Em 2009, quando o Ju foi rebaixado para a Série C, a direção investiu muito na área física, construindo um CT, e pouco no futebol - diz ex-centroavante Mendes.
Os últimos anos de destaques no cenário nacional foram em 2002 e 2004. Nos anos seguintes, o Juventude foi perdendo espaço na Série A e acabou rebaixado em 2007, em 18º lugar. Em 2008, no início da crise, chegou à decisão do Gauchão. Porém, após derrotar o Inter por 1 a 0 no Jaconi, sofreu goleada histórica por 8 a 1 no Beira-Rio e iniciou uma fase de humilhações sem precedentes. Foram dois rebaixamentos consecutivos em 2009 e 2010, e depois três anos na quarta divisão. O acesso no ano passado para a Série C voltou a dar esperança.
- O clube está enfermo, mas nada que não possa ser recuperado - acredita Wianey Carlet, comentarista do Grupo RBS.
Confira a opinião de especialistas sobre a situação do Juventude:
Michel Alves, ex-goleiro do Ju
"Para um clube que se acostumou com a Série A, quando caiu se deparou com pouco investimento do empresariado. Como os resultados não vieram, perdeu investimento, recursos. A solução é sensibilizar as empresas locais, tentar unir o empresariado em prol do clube que representa a cidade, assim como o Caxias."
Mendes, ex-centroavante do Ju
"Parei de jogar há três meses. Estou estudando gestão de futebol e sonho um dia voltar nessa área para o Juventude. Hoje, acontece o seguinte: os técnicos chegam nos clubes, trazem um monte de jogadores e depois vão embora. Só que os jogadores que eles trouxeram ficam. Não pode ser assim. Tem que ter um departamento para observar, avaliar e não deixar só na mão dos treinadores."
Beto Almeida, ex-técnico do Ju
"Depois da Parmalat, o Ju não achou mais o rumo. Acredito que as mudanças constantes fizeram com o que o Ju perdesse a sua filosofia. Quando assumi o time em 2007, sendo o quarto técnico contratado na temporada, peguei um grupo com 50 jogadores. Não se pode fazer um trabalho com 50 jogadores."
Wianey Carlet, comentarista da Rádio Gaúcha e colunista da ZH
"Lembro que várias vezes comentei o que julgava ser uma impropriedade: a troca sistemática de treinadores sempre priorizando "estrangeiros" que pouca ou nenhuma relação mantinham com o Juventude e o próprio futebol gaúcho. Parece-me, também, que o Ju firmou relações com um dos grandes gaúchos e congelou com o outro, diminuindo suas possibilidades de socorrer-se da dupla Gre-Nal que, em vários momentos, contribuiu com jogadores que foram importantes em jornadas vitoriosas.
Maurício Saraiva, comentarista da RBS TV e Rádio Gaúcha
"O Juventude sempre foi motivo de orgulho na Série A. Porém, quando os custos do futebol de alta performance ficaram grandes demais, o clube parece não ter conseguido fazer a devida passagem para um novo e mais modesto tempo. A descida foi fulminante série a série, a recente subida para a Série C prometeu outra fase que, porém, não se concretiza. A impressão que tenho é que o Juventude talvez esteja gastando mais do que pode, talvez lhe falte planejamento de médio e longo prazo."
Cléber Grabauska, comentarista da Rádio Gaúcha
"O Juventude não conseguiu se reinventar após a passagem da Parmalat e, com o passar dos anos, primeiro passou a ser um figurante no cenário nacional e, ultimamente, tornou-se um time comum como qualquer outro do nosso futebol gaúcho. Isso, falando de futebol. O grande mérito do Juventude era montar bons times, tendo em Túlio Cunha Lima um grande descobridor de talentos. Mas essa prática foi abandonada e talvez isso explique tantas apostas fracassadas, tanto em termos de treinador, como de jogador."
Luiz Augusto Alano, narrador da Rádio Gaúcha e TVCOM
"Convicção é o que precisa o Juventude. Tem um bom histórico de formação de atletas, mas estes não alcançam o brilho no próprio clube. Basta de apostar em atletas em fim de carreira. A Chapecoense é um exemplo: apostou em jovens com sede de crescimento profissional. Para isso, é necessário acreditar no projeto do início ao fim."
Especial
Dossiê Ca-Ju: Opiniões sobre a queda vertiginosa do Juventude desde 2007
Primeira matéria da série sobre a situação da dupla Ca-Ju fala dos rebaixamentos do Ju
Adão Júnior
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