Nos últimos nove anos, o Caxias foi um time oscilante. Teve alguns pontos altos, principalmente no Gauchão, e muitos baixos, normalmente na Série C do Brasileiro. E como é em nível nacional que o clube sonha em crescer outra vez, o que mais preocupa é a estagnação. Em 2015, o Caxias completa 10 anos na terceira divisão. De 2006, após o rebaixamento da Série B em 2005, até 2014, fez fiasco em duas edições, teve e perdeu duas chances de acesso, escapou do rebaixamento em dois anos e parou na última rodada da primeira fase três vezes.
O campeão gaúcho de 2000 e o primeiro clube do Interior a disputar a elite do Brasileirão precisa aprender com as lições do passado para recuperar o prestígio perdido. A situação sugere análises e pontos de vistas diferentes entre dirigentes, atletas e profissionais da imprensa. Além da crise financeira pelas dívidas trabalhistas e com a União, a falta de um patrocinador forte e uma parceria de gestão que teve bons e maus momentos, um dos principais motivos dos insucessos nacionais é questão técnica. Assim como o rival Juventude, pecou pela falta de convicção em treinadores e fez contratações equivocadas de jogadores.
- O Caxias prefere desmontar seus times para recomeçar tudo de novo - dispara o ex-técnico Paulo Porto.
No cenário estadual, teve resultados antagônicos: levou 8 a 1 do Inter em 2009, foi campeão do Interior em 2010, perdeu um turno nos pênaltis para o Grêmio jogando melhor em 2011, se vingou eliminando o grande da Capital em 2012 e depois conquistou o título do primeiro turno. Nos brasileiros de 2009 e 2013, disputou os jogos do acesso e perdeu. Nas outras temporadas, foi decepcionante.
Confira a opinião de especialistas sobre a situação do Caxias:
Paulo Porto, ex-técnico do Caxias
"Eu vejo uma situação bem clara no Caxias, até porque trabalhei no clube em 2007 e 2012. Vejo que os diretores de futebol não fazem a avaliação correta do trabalho, só sabem avaliar o resultado. E pior: não sabem identificar quando o trabalho está sendo bem feito. Todos os clubes campeões ou que conseguem acesso são times formados há mais de um ano, pelo menos. E os times do Rio Grande do Sul não dão esse tempo. Tudo bem que às vezes o trabalho não anda mesmo e tem que mudar, mas tem que ter competência parar avaliar isso."
Pedro Henrique, ex-atacante do Caxias
"O clube perdeu muito com o fim das categorias de base, isso era fundamental para ajudar a montar o time, que se tivesse sido mantido de um ano para outro poderia ter sido tudo diferente. Por outro lado, a gente sabe que manter uma equipe não é fácil na atual realidade do futebol brasileiro, porque os jogadores que se destacam acabam indo para equipes mais fortes. Turra, Luciano Almeida e Washington têm uma história com o clube, sabem como funciona o futebol na cidade e juntos têm muitas chances de levar o Caxias à Série B."
Julinho Camargo, ex-técnico do Caxias
"Falta priorizar muito mais o segundo semestre. O principal campeonato não é o Estadual. E o time do Estadual, mesmo se fizer boa campanha no Gauchão, não é suficiente para o Campeonato Brasileiro. O nível é diferente e as mudanças se fazem necessária, porque dá a possibilidade de escolher os melhores jogadores de outros mercados além do gaúcho. Caxias e Juventude fazem um bom trabalho, mas ainda falta o detalhe. É preciso maior investimento no Brasileiro e mais foco, porque é um campeonato diferente, mais firme."
Wianey Carlet, comentarista da Rádio Gaúcha e colunista da ZH
"Os motivos para que o Caxias se mantenha estagnado também não diferem muito do Juventude. Tem uma grande torcida e um estádio com boa capacidade, mas não se percebe um projeto que mobilize as forças do Caxias e, principalmente, a sua torcida. Buscar um parceiro forte (Caxias é uma cidade rica, tem muitas empresas poderosas) e investir nas suas categorias de base. Ficar substituindo treinadores quando a causa está na fragilidade técnica do time agrava o quadro, principalmente quando são buscados profissionais estranhos aos costumes e estilo do futebol gaúcho. O Caxias pode muito mais do que está podendo, mas precisa estar unido e ser criativo nas suas propostas."
Maurício Saraiva, comentarista da RBS TV e Rádio Gaúcha
"O Caxias viveu seu grande ano em 2000 com um título incontestável diante do Grêmio. Revelou aquele que hoje é o melhor treinador do Brasil, Tite, mas nunca chegou ao patamar do seu rival na cidade. Falta ao Caxias presença regular na Série A do Brasileirão como aconteceu com o Juventude, assim como falta um título do tamanho da Copa do Brasil. O Caxias nem chegou a viver os grandes momentos de reconhecimento nacional do seu adversário, o que talvez lhe dê a humildade indispensável para fazer o planejamento adequado aos recursos financeiros de que dispõe. Os números do futebol profissional no país hoje são estratosféricos, não vejo como o Caxias chegar à Série A no curto ou médio prazo. Há muito trabalho por fazer até para subir da C para a B. Não estou otimista."
Luiz Augusto Alano, narrador da Rádio Gaúcha e TVCOM
"O Caxias tem que voltar às origens. O time que se desprende de suas raízes não tem como ter sucesso. O Caxias é raça e nos seus melhores dias era uma equipe de operários que nunca se entregou. Uma equipe com profunda identificação com o povo da cidade. Trazer a torcida de volta para as arquibancadas e fazer os grenás se orgulharem do clube. Mas como? A meta tem que ser clara para o público. Jogar limpo. Se no Gauchão o importante é se manter e revelar atletas, que seja. Mas não pode deixar de ter ambição nacional. Se para isso for necessário sacrificar o Estadual, que assim seja."
Especial
Dossiê Ca-Ju: Opiniões sobre a inércia de 10 anos do Caxias na Série C
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Adão Júnior
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