Para croata que vive em Caxias, torcer pelo país é coisa séria. E a esposa que vá ver o jogo na casa dos pais

Em um dos prédios mais altos da área central de Caxias, a bandeira vermelha, branca e azul pendurada na janela do 12º andar indica: naquele apartamento, não se torce pelo Brasil de Felipão, Neymar e companhia. Pelo menos não nesta quinta-feira, quando a Seleção mede forças com a amada Croácia de Velimir Mehmedbasic. No jogo que abre o Mundial, o croata casado há 15 anos com a caxiense Maria Dolores irá mais uma vez se emocionar com o hino da nação que deixou há mais de duas décadas, mas nunca deixou de carregar no coração e em cada canto do lar no bairro Pio X.

O patriotismo croata, Velimir, 54, e Dolores, 51, explicam não ser apenas maior do que o brasileiro. É mais comparável ao bairrismo dos gaúchos, como a esposa prefere ilustrar.




- Enquanto o Rio Grande é o único estado brasileiro onde se canta o hino local após o nacional nos estádios de futebol, nos anos em que a Croácia pertenceu a Iugoslávia também se fazia o mesmo. Quando ele soube que aqui se fazia isso, me disse que era mais uma coisa em comum entre nós - conta.

Em dezembro do ano passado, a seleção croata de futsal esteve em Caxias para a disputa de uma copa intercontinental. Naquela semana, o casal havia retornado à Serra após uma viagem ao país de Velimir. E no dia em que as duas pátrias se enfrentaram, o casal foi à arquibancada cantar e torcer pelo time europeu, que acabou derrotado por 7 a 0. Se no Itaquerão vier uma nova derrota, não importa:

- Quero ver a Croácia jogando bem, fazendo o melhor que pode. Isso é o que me orgulha - conta Velimir.

De tão orgulhoso, o croata da capital, Zagreb, precisa conter as lágrimas quando ouve a música que será entoada pela torcida nas arquibancadas da Copa 2014. Cantar, nem pensar, pois a voz não vem. Enquanto espera o cântico carregar em um vídeo no Youtube, ele pede para a esposa traduzir:

 _ "É mais fácil/ Quando me perguntam quanto e como eu a amo tanto/ Explicar em uma só palavra: indescritível" - diz a música, na tradução de Dolores.

Velimir se identifica com cada palavra. E para não haver dúvidas de que a partir das 17h de quinta o apartamento do casal será território croata, já foi combinado que Dolores irá assistir ao jogo na casa dos pais. Como em 2006, quando os dois países se enfrentaram e Velimir e Dolores moravam em Nova York, onde se conheceram. Naquele dia, para evitar uma guerra conjugal-diplomática, ela saiu para assistir ao jogo com amigos. Mas dizer que Velimir estará sozinho, segundo ele, é um engano:

_ Estarei com todos os croatas. Um croata nunca se sente sozinho.