Um árbitro de futebol está sujeito a encarar uma série de broncas, com jogadores, dirigentes e torcedores. Por isso, são raros os que podem se vangloriar de não ter saído de algum estádio a bordo de um veículo da Brigada Militar, em especial no início de carreira. Mas, se para quem exerce essa função a vida é bastante atribulada, pode-se imaginar o que ocorre com os que acumulam o comando de um grupo de apitadores, o que Alcides Petry de Araujo fez por mais de 30 anos.
O início na arbitragem foi na década de 1960, quando ele trabalhava na prefeitura. Ao lado de outros mais antigos, ajudou a organizar o Departamento de Árbitros, para atuar em competições do município. Com o crescimento do grupo, aumentou a área de atuação, a ponto de envolver toda a região, e mesmo cidades mais distantes, como Passo Fundo e Lagoa Vermelha.
Naquele tempo, em que celular era coisa de ficção e telefone fixo, um luxo reservado a poucos, o trabalho de Alcides era bem complicado. Depois de receber os jogos da Federação Gaúcha de Futebol (FGF) e de outras competições, incluindo o futsal, ele tinha a missão de fazer as escalas. E em algumas oportunidades, quando alguém faltava, precisava arrumar um substituto, ou tratar de ir ele mesmo para preencher a lacuna.
Outra dificuldade estava nos acessos a algumas cidades. As viagens a Bom Jesus, antes da Rota do Sol, em estrada de terra, exigiam bastante dos veículos e motoristas. Isso sem falar de certos locais em que as confusões eram corriqueiras, pois o pessoal costumava eleger a arbitragem como responsável pelos insucessos das equipes. Assim, os apitadores não arriscavam deixar os carros perto dos campos, sob o risco de enfrentar sérios prejuízos.
Mesmo com toda essa agitação, Alcides nunca teve grandes problemas.
- Fiz muitas amizades e sou feliz por não ter incomodação fora de campo. Tem muita gente que leva as coisas para a rua.
O que mudou a vida dele ocorreu há cerca de dois anos, quando foi atropelado numa calçada perto da Igreja Pio X. Depois de uma longa internação, acabou sofrendo outros acidentes, que lhe dificultaram os movimentos e até a memória, embora esteja tentando se recuperar.
- Isso tudo me derrubou - resume, no Atelier do Marquinhos, a oficina de chapeação do filho, onde passa a maior parte do tempo.
Por onde anda
Alcides Petry comandou a arbitragem de Caxias e região por 30 anos
Ele atuou no futebol de campo e futsal, até sofrer um atropelamento, há dois anos
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