A pergunta é: nunca mais teremos um bicampeão mundial de verdade, como a Itália em 1934 e 1938 ou o Brasil de 1958 e 1962?
Desde então, e lá se vai quase meio século, parece que conduzir até a Copa seguinte uma geração campeã é o mais medonho dos erros. É atalho para o fiasco. Foi assim com a França de 2002. Com o Brasil, em 2006. E agora, com a Itália, em 2010.
Uma geração de campeões mundiais não resiste mais ao tempo como no passado. Quando a Copa seguinte chega ela está velha, cansada e aborrecida. A preparação física alucinada do futebol atual garante força máxima aos jogadores por um período curtíssimo de tempo. Pode aparecer uma ou outra exceção individual, mas garantir compromisso de todos é impossível.
A Itália que volta para a casa em último lugar no seu grupo, atrás da Nova Zelândia e sem ganhar de ninguém, é precisamente isso: um time cansado e sem ambições. Uma seleção com ambição e entusiasmo não deixa o atacante inimigo receber um passe feito com as mãos dentro da área, após uma cobrança de lateral, como a Itália na derrota para a Eslováquia por 3 a 2.
Depois de erguer a taça, os jogadores passam quatro anos se banhando em glórias. Concedem o triplo de entrevistas. Viram astros de TV. Vendem tudo, de perfume a radiadores de carro. São mil vezes mais assediados do que no passado. O ego explode. Neste contexto, é difícil passar quatro anos cuidando da preparação e pensando no bicampeonato para o seu país.
As delícias do admirável mundo novo de um campeão do mundo devem mesmo ser sensacionais.
Alguém dirá que a Seleção Brasileira chegou à final de 1998 contra a França, após ter vencido quatro anos antes nos Estados Unidos, em 1994. É caso típico da exceção para confirmar a regra. Nem chega a ser exatamente exceção.
O Brasil chegou à decisão, mas não fez uma boa Copa na terra de Asterix e de Obelix. Eu estava lá e acompanhei de perto. Além de apanhar da França de Zidane, perdeu para a Noruega na primeira fase e precisou dos pênaltis para eliminar a Holanda na semifinal. Foi se classificando batendo na trave. Facilidade mesmo só contra o Chile, nas oitavas. Nunca jogou bem de verdade.
Nunca mais veremos uma seleção bicampeã em uma Copa do Mundo. Nunca mais veremos uma geração de jogadores lutando por uma glória feito a do Brasil de 1958 e 1962 e da Itália de 1934 e 1938, com a coragem de espartanos contra os persas. O futebol romântico acabou.
Esportes
Fim do futebol romântico: nunca mais haverá um bicampeão do mundo
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