Hoje, logo no primeiro dia, a Copa da África do Sul pode se tornar a mais deslumbrante de todas desde 1930, quando os uruguaios ergueram o primeiro troféu em Montevidéu. Se acontecer o que tem que acontecer, tudo terá valido a pena.
Os estádios caríssimos em um país pobre, a desorganização inicial, os problemas com a máfia nigeriana, tudo será absolutamente justificável.
Vou sentar em frente à TV de casa e torcer para ver Nelson Mandela, o mais formidável homem vivo deste planeta, sorrindo para a multidão de brancos e negros, juntos e abraçados, no estádio Soccer City, de Joanesburgo.
Se Mandela, além de sorrir aquele sorriso de liberdade, se levantar sozinho da cadeira e acenar de pé para a multidão será o delírio, a consagração, a vontade de chorar uma lágrima de alegria.
E se Madiba (título honorário do clã dos Mandela) ainda mexer os braços insinuando uma dança, copiando a reação que teve ao ser empossado presidente da África do Sul em 1994, após 27 anos preso e sem trocar a sua liberdade por absolutamente nada que não fossem direitos iguais entre negros e brancos, aí chorar é um dever.
Seria demais. O estádio inteiro dançaria com ele, e nós todos deveríamos fazer o mesmo em casa, em sinal de respeito.
Sem falar que o Pedrinho, meu filho de quatro anos e meio, vai adorar a confusão. Vai perguntar quem é aquele cara ali da TV, e eu vou ter a chance de contar uma das histórias reais mais incríveis e comoventes da humanidade. O Pedro não vai entender muito bem. Mas vai sentir. É o suficiente.
A assessoria da Fundação Nelson Mandela informou ontem que Madiba pode surgir triunfante no jogo inaugural, entre África do Sul e México.
Aos 91 anos, a saúde é fraca. Não concederá entrevistas durante o Mundial. Como não seria justo falar para um e esquecer os outros, melhor deixar assim. Mandela é um homem correto sempre, como se vê. Mas há chance de ele aparecer. Segundo o comunicado da fundação, "Mandela quer estar presente: tudo vai depender de como ele acordar" hoje.
Então, que Mandela durma o melhor dos sonhos e acorde feliz como naquela manhã de 1990, quando Frederick de Klerk, o africaner da vez no poder não suportou mais a pressão internacional e ordenou a sua libertação, sumária e sem restrições, assim como de todos os negros do país.
Com a legalidade do partido do Congresso Nacional Africano, vieram eleições livres e a eleição de Mandela, que abriu mão da guerrilha quando o seu povo não precisou mais morar em guetos e construiu uma África do Sul de direitos iguais para todos, sem perseguições. Após décadas de exploração, vai demorar para o país ser igualitário. Mas a caminhada começou.
Tomara que os 91 anos (92 no dia 18 de julho) não tenham tirado todas as forças do homem mais formidável do planeta e ele possa estar presente no jogo inaugural da Copa.
Nem precisa ficar de pé ou dançar.
Se sorrir aquele sorriso de liberdade, já terá valido a pena.
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A Copa pode se tornar a melhor da história hoje
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